quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Recentemente fui apelidada de racista, não directamente como agora escrevo, mas num texto subentendido, ao dizerem que aonde eu havia referido "pessoas de cor" estava a usar um eufemismo que demonstrava, não só a minha propensão para o racismo como a de todos os Portugueses e Mundo que não é "de cor", mesmo que esse racismo fosse escamoteado.

Não podia, como é óbvio, essa bloguista e autora, estar mais longe da verdade. Primeiro porque nunca fiz distinção entre as pessoas de cor e pessoas ditas brancas e em segundo, porque é culturalmente e socialmente aceite como a expressão correcta.

Trato-as assim porque neste texto e no que fui acusada, tornava-se imperativo diferenciar e as palavras "Negro" e "Preto", não só não correspondem a uma verdade física, biológica, ou fisiológica (pois ninguém é negro ou preto), mas também porque são termos que foram amplamente usados para depreciar e menosprezar as pessoas que têm um tom de pele mais escuro, mais próximo do chocolate e mais longe da minha cor lívida e sem graça de anúncio à Neoblanc. 

Não que o que é aceite socialmente a mim me faça alguma diferença!

Por exemplo, a mesma pessoa que me acusou de tal mentira, acha o máximo o novo acordo ortográfico e faz publicidade do mesmo, o que no meu caso, nunca virá a ser aceite, mesmo quando for obrigatório. Irei remar contra a maré, pois o português, que ela chama como europeu (para mim, é apenas Português e o original, pois não conheço outro país europeu que o fale), é a minha língua. Nada tenho contra a introdução de novas palavras, acho gratificante quando uma língua (porque é um organismo vivo) cresce e evolui e aumenta a sua expressividade, mas não concordo com a sua perda de identidade apenas porque os outros países que adoptaram a nossa a língua a decidiram deturpar. Irei escrever todas as consoantes mudas, continuarei a pronunciar os "C's" de FACTO, de ACTOR, de ACTO e de ACÇÃO (sim porque a maioria dos portugueses os pronuncia, mesmo que seja de uma forma dissimulada). Mas não me quero perder neste assunto, pois por mim, farmácia ainda se devia escrever com PH e já não é do meu tempo.

Mas sim, porque da mesma forma como adjectivamos as pessoas de gordo, alto e magro, feio e bonito, bom e mau, esperto, inteligente, ou seja lá qual for o adjectivo, quando precisamos de distinguir as pessoas (e neste caso estávamos a falar de África, a mesma África onde eu nasci e vivi os meus primeiros anos de vida e que dos quais morro de saudades diariamente), também aqui era necessário, para que a conversa pudesse fluir e fazer sentido.

Todos somos diferentes, mas devemos ter perante o mundo e a sociedade, os mesmo direitos, as mesmas oportunidades. Isto é o que eu penso! E não é só numa questão entre "brancos" e "pretos", "amarelos" e "vermelhos" mas sim perante tudo, perante a economia, o sexo e a idade.

A discriminação existe, é um facto incontornável, mas também existe no fundo das pessoas a capacidade de entender o quão absurda é, de o reconhecerem, de o admitirem.

Não sou uma pessoa pessimista por natureza. Para mim um copo meio vazio, é um copo que está a caminho de ficar cheio (se o cheio for o positivo da equação, é claro) e sinceramente não tenho paciência para pessoas que num posicionamento totalmente ultrapassado de  "beatnik", se acham superiores aos outros porque apenas eles sabem o que é sofrer, apenas eles viveram maus tempos, apenas eles são rebeldes sem justa causa (ou com uma causa que apenas a eles diz respeito).

Não é com mágoa que se avança, mas sim com esperança e atitude positiva. Não é com amarguramento e ofensas generalistas que os problemas se resolvem, mas sim com actos e acções. Colocar o oposto do que nos é querido, num saco conjunto como sendo lixo, apenas mostra que sofremos do mesmo mal daqueles que odiamos.

Ninguém é dono da razão, por isso, mesmo no vosso sofrimento, mágoa e despeito ressabiado e vomitado (quem sabe o que é o movimento "beatnik", vai perceber porque utilizei tal expressão), não se achem superiores aos outros, pois quanto muito, vocês viram tanto quanto os outros, viveram tanto quanto os outros, sofreram tanto quanto os outros, recordam tanto como os outros e sabem e apercebem-se tanto quanto os outros. O que muda é o vosso posicionamento e a forma de o encarar.

Também eu tenho o direito de me refugiar nas minhas vivências e de ser mais do que aparento, ou escrevo. Também eu tenho o direito de falar e expressar a minha vontade, pensamento e o meu sentir e também eu tenho o direito de adjectivar um sujeito, com o que é politicamente correcto, sem que com isso tenha de ser apelidada de racista, simplesmente, porque não o sou. Os meus amigos que o confirmem, porque o meu corpo confirma-me todos os dias o que eu sofri por ser como sou, mas é mudo para o Mundo.

Vivi num país em guerra, ouvi gente a ser fuzilada e fugi de tiros nas ruas, escondendo-me atrás de carros e correndo para o prédio onde morava (7 andares sem elevador, pois este havia sido transformado num depósito de lixo), porque ficava já ao virar da esquina. Ajudei a minha mãe a fazer pão e massa para pão para mais de 2 meses, simplesmente porque naquele dia se tinha conseguido farinha, e não se sabia quando é que voltaria a haver e então tinha de se congelar e aproveitar ao máximo o que se arranjava.

A minha mãe fantasiava muito, tentava moldar, toldar as nossas recordações como sendo meras aventuras que teríamos para contar mais tarde. E eram, de certa forma eram. Mas eram mais do que isso, eram uma realidade dura, cruel e feia, onde o pior do ser humano mostrava as suas cores. Os meus pais não abandonaram Angola depois da Independência e eu nasci lá e vivi lá, pós era colonialista e conheci em primeira mão, o que ela era antes e no que se veio a tornar depois, com os meus olhos, com a minha pele, com os meus ouvidos, com a minha boca, com o meu nariz.

Eu gosto de olhar para as coisas e ver nelas a perfeição que a realidade tem tendência em esconder. Mas eu sei que ela está lá e que eu posso pelo menos tentar, com que os outros vejam o mesmo que eu, pois o que se vê, já está à vista de todos e é meramente a constatação de um facto e nada de novo trás.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Li num blog que sigo, que o autor achou muito estranho, no fim do último filme do Harry Potter, os espectadores baterem palmas e que isso devia ser algo só dos Tugas.

Eu não acho isso nada estranho! Nos Estados Unidos acontece com muita frequência, mas a primeira vez que me aconteceu a mim, era ainda adolescente (talvez mais nova) e fui ver o Rocky, aquele em que ele luta contra o Russo e no final, todo roto e mais morto que vivo, ganha. Aí, não só bateram palmas como se levantaram das cadeiras e apesar do tempo passado toldar e turvar as recordações, arrisco-me a afirmar que deram mesmo alguns pulos de contentamento e de alívio.

Eu pessoalmente, sou da opinião que as pessoas devem fugir às convenções e se algo as empolga, as faz vibrar, devem fazer esse sentimento passar para o exterior, e se no meio desse entusiasmo, o que sai são palmas, estas são mais do que bem vindas.

Ainda bem, que os Tugas não são Robots e que sabem exteriorizar as suas emoções. Talvez por isso, não tenhamos cenas tristes como as que se passam nos outros países, talvez por isso cenas que passam diariamente nos telejornais que nos chegam do Egipto, da Grécia, de Inglaterra, não passe nos outros países, sobre o nosso.

E isto apenas vem provar que quem acha que os portugueses são um povo enfadonho, que não têm emoção e que não recebem o Mundo com os braços abertos e que é preciso ir buscar o exemplo de gosto pela vida, do outro lado do oceano, estão erradas, redondamente enganadas.

Nota:
Gosto muito do blog ao qual faço link, adoro os desabafos e as memórias, respeito as opiniões e amo os temas abordados e a forma como é escrito. Apenas não concordo com algumas coisas que são ditas, assim como com toda a certeza os outros também não concordam com muita coisa que digo. Concluíndo, eu não faço uma crítica ao blog, nem muito menos à autora, mas sim à opinião (que não é única e, por isso mesmo, serviu de exemplo) que foi exposta naquela mensagem em particular. Sou uma ávida leitora do blog visado e continuarei a ser.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011


Hoje li uma rábula que me colocou a pensar. Apesar do meu sentido negro de humor, ter dito logo, quem não tem olhos não chora, eu acho que neste caso o homem teria direito, mesmo sem glóbulos, chorar lágrimas de sangue.

Mas chega de conversa, aqui fica a rábula e retirem vocês as vossas ilacções. Eu arrepiei-me.

Havia uma rapariga que se odiava por ser cega!


Um dia, ela disse ao namorado que se pudesse ver o mundo casava com ele.

Num dia de sorte, alguém lhe doou um par de olhos.

O namorado pergunta: agora que vês, casas comigo?

Ela, chocada porque viu que ele era cego, disse: desculpa mas eu não posso casar contigo, porque és cego!

O namorado afastou-se em lágrimas e apenas lhe respondeu: "CUIDA BEM DOS MEUS OLHOS!"

quarta-feira, 3 de agosto de 2011


Não quis saber! Ontem quando eu e o Fi chegámos a casa pusemos as mãos à obra e começámos a montar a mesa e as cadeiras que eu tinha comprado para a varanda.

Eu não sei se isto acontece com vocês, mas assim que eu começo a fazer qualquer coisa que merece a minha atenção, o meu telemóvel, que até é um aparelho com pouco uso e que espaçadamente o oiço tocar, começa sempre a vibrar e a produzir um som que tem como efeito chamar-me a atenção para uma chamada.

Também ontem foi assim! Andava eu e o Fi à volta de um parafuso teimoso que não queria por nada entrar e atarrachar na porquinha que lhe estava destinado e tive de atender uma chamada que merecia toda a minha atenção, pois desde que me mudei para o Norte, as chamadas com o meu melhor amigo, tornaram-se cada vez mais raras e espaçadas no tempo.

Então enquanto falava com o meu melhor amigo sobre as novidades e coscuvilhices, continuava a ajudar o meu marido a montar a mesa teimosa. A meio da chamada a mesa lá ficou de pé, linda com as duas cadeiras, tal como havia imaginado, na minha varanda da sala. A chamada terminou e a vontade de fazer qualquer coisa para a inaugurar era grande de mais.

Coloquei uma vela de citronela no meio, o Fi abriu uma garrafa de vinho verde que estava geladinha no frigorífico (parece que lemos sempre o pensamento um do outro, não foi preciso dizer nada), os copos foram fazer companhia à vela enquanto aquecia uns restos que tinha no frigorífico e que precisavam ser comidos, antes de os ter de deitar fora.

Vesti um casaco de malha e lá fomos nós jantar à luz da vela num fim de dia de Verão tristonho e encoberto, com um vento fresco de calor esquisito, na mesa nova, comprada de propósito para aquela varandinha aconchegada da minha casa.

O jantar foram restos, mas estavam deliciosos, o vinho estava a estalar e a conversa, foi como sempre, muito boa!

Mesa inaugurada, com frio e tudo!

terça-feira, 2 de agosto de 2011


Comprei eu, toda pimpona, um conjunto lindo de uma mesa e duas cadeiras, no Continente, a um preço fantástico de promoção, para que o tempo não me permita agora estreá-lo.

Irá ficar tão bem na minha varanda para uns jantares de Verão à luz da vela e não pára de chover e fazer frio.

VERÃO, importas-te de aparecer de uma vez por todas? Quero noites abafadas em que tenho de ligar ventoinhas, noites quentes para jantar na varanda, noites em que o calor é tanto que apetece fazer mil e uma coisas que não dormir.

Quero ter Verão!

Há 19 anos atrás recebia um telefonema do meu avô (que Deus o tenha) a dizer-me que a minha tia já estava no Hospital para ter um rebento cabeludo e pequenino, de nome Mara, que viria a ser a minha primoca/filhota linda.

Tinha ela poucos meses de idade, e já eu tomava conta dela e andava com ela, toda feliz e contente, sonhando que ela era minha, só minha e de mais ninguém. Eram fim-de-semana inteiros com a prima, férias em Espanha, férias no Algarve, férias, sempre férias, porque na altura ainda estudava e andava com ela para todo o lado. (Coitada da minha Tia!)

Até para a Universidade ela vinha comigo! O importante é que ela era minha, era linda e toda a gente me invejava.

Isto foi há 19 anos atrás. Estive com ela na primeira saída à noite, estive com ela no primeiro flute de champanhe, recebi o telefonema dela, no primeiro namorado e conheci todos os que se seguiram. Eu era mais do que uma prima, era uma segunda mamã e eu adorava.

Hoje, está ela a caminho do segundo ano da Universidade, grande, maior e vacinada, continua linda como sempre foi e já tem 19 anos.

Parabéns linda, que vivas muitos e muitos anos e que eu esteja cá para te acompanhar nas noitadas, nos copos e também no momentos maus.
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