segunda-feira, 28 de julho de 2008

Corta com a faca as cordas que a atam à cama e desfaz-se dela com uma displicência pouco comum nele. Acaricia-lhe o rosto. Tenta adivinhar quantos anos de vida tem aquele anjo, que ele mantém como seu refém. A sua anatomia confunde-o. Pensa que ela não deve ter mais de dezasseis anos, talvez ainda menos, apesar daquele corpo apresentar uma desenvoltura pouco comum, para tão pouca idade. O que o leva a pensar assim é o seu rosto e os cabelos escuros como o manto da noite que os envolve, que cobrem por completo o corpo até a cintura. “Sim!” - pensa ele – “O teu rosto denuncia uma adolescência menosprezada.”

A respiração dela acelera e a sua pele arrepia-se de frio. Ele afasta-se, mas apenas o suficiente, para poder observar a penugem loira que se irriçou. Ele sorri. Aquilo agradava-lhe. Apercebe-se que em breve ela acordará, recuperará os sentidos e afasta-se um pouco mais. O corpo dela treme agora de frio, naquela húmida tenda. Ele quis, num instinto paternal, tapar a sua nudez, mas numa disciplina militar, deteve-se.
 
Ela, até agora envolta num doce entorpecimento, começa a readquirir a consciência. Acordou aos poucos. Começou por sentir o frio na sua pele, depois a dor física de uma batalha que perdeu. Tentou por último abrir os olhos e com grande custo, acaba por ser bem sucedida. Um tecto de lona verde caqui, é o que vê primeiro. Esta foi a primeira imagem desta nova consciência. A segunda era-lhe transmitida em forma de sombra chinesa, fenómeno provocado pela luz bruxuleante dos candeeiros de petróleo, mas foi o suficiente para perceber que não estava só e num gesto instintivo, assume uma posição virginal, sentando-se naquela fria cama de campanha, agarrando junto do seu peito, os joelhos, como se, com o corpo colocado em tal posição, criasse uma concha que a iria proteger do olhar e das intenções daquele que partilhava com ela, aquele lugar.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Ontem fui totalmente surpreendida, pela mensagem mais insólita que ouvi em toda a minha vida, principalmente por ter vindo de um auto falante num espaço público.
Estava eu, ao fim de um longo e estupidificante dia de trabalho, à espera de um comboio mágico que me levasse dali embora, para um local onde os patrões sabem o que dizem, cumprem com promessas e obrigações, aceitam os nossos pedidos de férias como algo que é devido e justo e que irá aumentar a produtividade do colaborador, exactamente da mesma forma, que nós trabalhamos mais 21 horas extraordinárias, nas últimas três semanas, sem sequer perguntar se por acaso iriam ser pagas. Mas voltemos à voz. Estava eu assim, à espera, quando no auto falante, uma voz diz: "Cuidado com os carteiristas nesta estação!
"Cuidado com os carteiristas nesta estação!" - Oiço de novo, passado algum tempo, como confirmação da primeira vez. Não pude deixar de soltar uma gargalhada sonora, que saiu como alívio, depois de tudo o que passara durante o dia.
Depressa me recompus dos olhares de esguelha e comecei a pensar: É essa a solução para todos os problemas: uma voz de consciência, contínua e omnipresente, que nos alerta para todos os males. Estamos distraídos a olhar para o ecran plasma que passa um videoclip numa estação de metro e alguém nos avisa: "Cuidado com os carteiristas nesta estação!" Acordamos, ficamos alertados e se por acaso um carteirista nos assaltar (porque os amigos do alheio vivem dos rendimentos), a culpa é nossa, porque não tivemos aptidão para evitar o roubo, apesar de termos sido alertados para a possibilidade. A culpa não é da falta de segurança, de policiamento e muito menos da conjuntura económico-social, que cria os carteirista. A culpa é nossa.
Vamos a uma entrevista de emprego e tudo nos parece maravilhoso e estamos distraídos com a areia que nos lançam nos olhos e uma voz diz: "Cuidado com os aldrabões!" E pronto, já não nos podemos queixar dos patrões, só nos podemos queixar de nós, apenas de nós que aceitámos o emprego ainda assim.
Agora apliquemos isto a outras situações no mundo, no quotidiano, pela vida fora e teríamos um mundo, praticamente igual ao que temos hoje, mas onde cada um de nós, era responsável por cada coisa que acontece. Apenas nós e mais ninguém.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Ele leva-a ao colo, protegendo-a da noite fria. Pousa-a numa cama de campanha e ata-lhe os pulsos. Não quer preocupar-se com ela, mais tarde. Observa-a de longe, do outro lado da tenda. Ele receia este encontro, quase tanto como o anseia. O tempo passa. Ela dorme. Ele não a conhece, nem tem a certeza se o deve fazer. Aproxima-se. Observa-a atentamente, de perto, como se quisesse sentir, para além de olhar. Ele pretende mais do que pode. A sua missão é-lhe penosa. Ela está indiferente, no seu estado de inconsciência, alheia a esta atenção não pretendida. Ele observa-a de novo. Adivinha a cor dos seus olhos. Avalia cada detalhe daquele corpo jovem, daquela beleza em estado puro, ainda não madura, mas já longe de ser verde. Tudo lhe parece irreal. Ouve a sua respiração lenta, triste, fraca. Sente o calor que liberta a cada expiração.
Decide tocar-lhe, sentir a firmeza dos membros, constatar que é de carne e osso, a pobre jovem que jaz naquele leito improvisado. Sente a suavidade da sua pele e imagina que seja assim o toque da seda. Cheira o perfume jovial de rosas que exala do seu corpo e tem uma ligeira tontura. As razões podem ser várias para essa fraqueza. Nada comeu durante todo o dia. Sofre já a alguns dias os sintomas de uma gripe grave. Ou, simplesmente, o cheiro daquela presa, provoca-lhe emoções que ainda desconhece. A verdade é que nunca, os seus sentidos se baralharam desta forma. Toda aquela pureza ao alcance das suas rudes mãos, era-lhe estranha e havia-lhe sido privada, desde que se recordava como gente.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Quando ouvi na radio, que tinha havido problemas num Bairro, chamado Quinta da Fonte, pensei irónica para comigo; "As rosas devem ter atirados os seus espinhos contra as gipsofilas, por terem feito muito barulho depois da meia noite, não permitindo à Fonte, por falta de décibeis à altura, contribuir para o seu sono reparador, com o seu suave pingar!"

Mal eu adivinhava os verdadeiros problemas que estavam por trás de um nome tão belo como Quinta da Fonte.

Mas disto já todos falam, ninguém se cala. Todos dizem que é uma vergonha, que aquilo não pode acontecer, que é tapar o sol com a peneira. E é! É sim! Mas o que me choca não é isso. O que me choca são as palavras utilizadas e o que dizem na televisão.

Não preciso de ir muito longe para descobrir no mesmo parágrafo as palavras: Despejados; Gangs, Etnias, Pretos, Negros, Ciganos, entre outros adjectivos, que nem sequer me atrevo a escrever. Mas quando vem de uma das partes queixantes, então deixa-me com urticária.

O racismo existe, é latente, camuflado, mas existe. Eu sei que existe! Mas fico estupefacta, quando o racismo é mostrado com tanta clareza e crueldade. Não basta ver pessoas serem "Despejadas" num bairro social (por mais bucólico que seja o seu nome), apenas porque "dava jeito", a Expo98 estava à vista e precisavam de a concluir. Não basta ver as suas condições, pouco ou nada melhorarem. Também temos que ver como eles não fazem o mínimo esforço para o fazer. Sei que é uma questão de etnia, educação, tradição. Sei que os ciganos são povo racista, só se casam entre si, todos os outros são escumalha, mas os tempos mudam. Estão a ser dadas novas oportunidades, estão a oferecer-lhes de mão beijada uma nova vida, que pode, tão bem como qualquer uma das nossas, adaptar-se às novas circunstâncias.

A maioria destas pessoas, recebeu do Estado muito mais do que a maioria de nós já recebeu. Foi-lhes dado casa, um bairro, uma comunidade, subsídios e sei lá mais o quê! (Eu estive algum tempo desempregada e nem sequer o subsídio de desemprego tive direito, porque tinha sido uma rescisão de comum acordo.) Mas mesmo assim, ainda acham que devem revoltar-se, como povo, como comunidade, apenas e porque, não gostam dos novos vizinhos.

Eu gostaria muito de ver o que me aconteceria, se por um mero acaso, eu decidisse dizer que não gosto do meu vizinho porque ele é Árabe, Judeu, Africano, ou Latino? Provavelmente sofreria as consequências de tal acto racista. Mas não no caso destes senhores. Hostilizaram enquanto foi possível e agora que os outros estão tão organizados como comunidade (no pior sentido, mas ainda assim uma organização), sentem-se ameaçados? Bem feito! Bem feito para vocês de etnia cigana e bem feito para todos os que acham que só devem viver dentro do que conhecem, que rejeitam o que os rodeiam, que rejeitam o mundo e se acham o centro do mundo.

Um povo nómada, nunca na vida, deveria ser racista, pois geralmente são os primeiros a sofrer as consequências desse mal. Infelizmente quer-me parecer que as lições de História ficam esquecidas no exacto momento em que recebem as chaves de uma nova casa, para a qual nunca fizeram nada para merecer.

Sinto muita pena de todos os que são inocentes, de todos os que apenas queriam poder brincar livremente na rua, com o último brinquedo que alguém lhes havia dado, de o mostrar ao seu vizinho do lado, com os enormes olhos brilhantes de alegria e não de lágrimas e convidá-lo, com uma voz ainda aguda, porque é inocente e todas as vozes inocentes têm que ser obrigatoriamente agudas:

- Anda, podes brincar também. O que é meu é teu e nós somos do Mundo.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Porque será que um anúncio, um simples e até nem por isso especialmente bem realizado anúncio, persegue-me nos sonhos? É que, para além de ver os anúncios, espalhados por tudo quanto é lado, em cartazes de dimensões enormes, espaçados por menos de 2 minutos de caminhada, de ver o anúncio na televisão que repete, continuamente, a cada intervalo e de o ver na internet, ainda sonho com ele e até o chego a cheirar? Bem... podiam acontecer coisas piores.
Vocês lembram-se daquela urgência hormonal, que sentíamos enquanto adolescentes?
Aquilo não era urgência, era apenas precipitação.
Hoje, que já passei dos trinta, tenho a certeza disso. Agora sim, tudo parece urgir, o tempo escapa pelos dedos, como água, como areia e não há como voltar com os ponteiros do relógio para trás.
As coisas a fazer ainda são muitas; muitos planos a cumprir, muitas etapas para passar, muitas metas para cortar, mas os anos que surgem pela frente começam a ser, a cada dia que passa, cada vez menos, menos, menos.

terça-feira, 8 de julho de 2008

 

E porque hoje acordei ao som desta música:

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada
 
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes
 
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
 
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
 
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
 
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
Chico Buarque

sábado, 5 de julho de 2008

Sei que irei ser trucidada por causa desta opinião, mas não me importo. Não posso permitir que o politicamente correcto, seja mais importante do que a livre expressão de opiniões. Há certos pensamentos que têm e devem de ser comunicados, ou transformam-se em bombas relógio, prontas a explodir a qualquer momento, por isso, aqui vai.
Eu consigo compreender a Homossexualidade, a sério e quero que acreditem, pois é importante para perceberem o que quero dizer. Eu consigo compreender que um ser humano se sinta atraído, sexualmente, pelas características físicas e psico-comportamentais, do mesmo género e creio, que esta é a definição de homossexualidade.
Contudo, não consigo compreender a "Gaysice" e a Bichanice, pois sinceramente, se alguém se sente atraído pelas características do mesmo sexo, não devia, por princípio, sentir-se atraído por um produto de contra facção, ou substituto do sexo oposto. Consigo perceber um "Alexandre o Grande", sentir-se atraído por um corajoso e musculado Efaísto, cheio de cicatrizes de batalha, que marcam o seu corpo másculo. A sério que entendo e se eu fosse um homem, seria com toda a certeza Homossexual. Mas não consigo compreender um homem que se sente atraído pelas características do mesmo género, morrer de amores, por um "Castelo Branco", aos berros no meio do campo de batalha; "Ai acudam, acudam, que a espada dele é tão grande!", num tom de voz tão agudo, que apenas seria suportável numa diva de celulóide do cinema mudo. Nem compreendo que se tenham que tomar atitudes do género oposto, apenas para facilitar as nossas opções sexuais (porque é um acto em si, contraditório).
Entendo que o ser humano, nasce com uma dualidade sexual e que esta pode exprimir-se de uma forma mais feminina, ou mais masculina. Eu própria identifico-me muito mais, com alguns comportamentos e gostos masculinos, do que seria de esperar. Por isso, sim, também compreendo isso. No entanto, seria incapaz de me sentir atraída por outras mulheres. MAs isso sou eu, que talvez tenha nascido com o órgão sexual certo: homem que gosta de homens em corpo de mulher. (brincadeira, claro)
Agora eis que chegamos à questão: A Transsexualidade. O principal ponto, ou argumento de defesa desta prática, é a de as pessoas acharem que estão presas no corpo errado: homens que acham que são mulheres e vice-versa. Até aqui, tudo bem. Contudo, não são raros os casos que têm surgido, que me fazem pensar que a transsexualidade, não é mais do que o último recurso de um homofóbico extremo.
Podem garantir-me que, antes de qualquer mudança de sexo, as pessoas são altamente avaliadas e que apenas, os verdadeiros casos é que avançam. Mas se assim é, como se explica que os órgãos sexuais de origem, não lhes sejam retirados? Se são mulheres presas em corpos de homem, o pénis devia causar-lhe desgosto. Se é um homem, preso em corpo de mulher, ter menstruação, poder engravidar e até mesmo ter uma vagina, devia causar incómodo, náuseas e depressão. Mas isto continua a acontecer. Operações de transsexualidade, de mudança de género nada têm! São apenas um up-grade dúbio, e em vez de homens ou mulheres, passam a ser casos raros na natureza, de hermafroditismo. E isto tanto acontece, que agora tivemos uma mulher, que utilizando uma dispendiosa máscara de Carnaval de Homem, para poder levar uma vida social masculina, tirou umas férias da sua anterior aversão ao corpo feminino e não só engravidou, como deu à luz uma linda menina.
Ora, isto para mim não faz sentido.
A única forma de isto fazer algum sentido, é uma teoria que sempre defendi: A transsexualidade, não é mais do que, uma forma de Homofobia Aguda.
Eu explico. Um ser humano sente-se atraído pelas características físicas e psicológicas do mesmo sexo. Mas isso é errado. Foi o que sempre ouviu e aprendeu: É errado! - Gritam-lhe os sentidos. - Na sociedade em que vivemos, uma mulher gosta de homens e os homens gostam de mulheres.
E esta convicção cresce de forma tão grande, que se convencem a si mesmos: Estou preso no corpo errado, porque eu não sou homossexual. ser homossexual é errado, é mau, é pecado, é anti-natura, Deus assim não quis. Mas se calhar, Deus enganou-se e deu-me uma vagina em vez de um pénis. E se Deus, deu inteligência ao Homem e o Homem, inventou formas de corrigir o Erro Divino, então eu posso mudar. Mudar de sexo, namorar mulheres, casar-me com uma mulher e continuar aceite na sociedade. Sim, posso ser um homem, porque homossexual, é que não sou.
Pena só ser válido, até Deus voltar a enganar-se.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Quero deixar-me ir, quero entregar-me aos instintos, satisfazer a fome de sexo. Quero satisfazer a gula pelos seus lábios, pelo sabor da sua língua, pelo sal da sua pele.

Quero satisfazer o meu olfacto e cheirá-lo antes do sexo e cheirá-lo durante o sexo e cheirá-lo depois do sexo e já suado. Sinto saudades desse cheiro, que é só dele e que mais ninguém tem.

Quero satisfazer os meus olhos, observar a sua robustez física, a definição dos seus músculos delineados, os seus olhos esverdeados, invadir essa floresta, que de tão terna, só pode ser um reduto amazónico ainda por descobrir e encontrar a sua alma, a chama responsável por ele estar ali, quando podia estar em qualquer outro lugar, com qualquer outra mulher.


Quero satisfazer o meu tacto, a minha pele e sentir o toque forte das suas mãos, a força dos seus bíceps, tríceps, quadríceps, abdominais, glúteos, sentir o calor da sua pele, sentir a aspereza da sua barba por fazer, a suavidade acetinada do seu alter-ego, de sentir a doce dor da penetração, que depressa se transforma em puro prazer.

Quero satisfazer a minha audição, ouvir a sua voz grave segredando promessas, vomitando elogios ocos, quero ouvir os seus gemidos, o seu arfar, quero ouvir os seus pensamentos, quero ouvir o bater do seu coração.

Quero sobretudo, satisfazer a minha urgência uterina, quero agradar aos meus sentidos.
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