quarta-feira, 21 de maio de 2008


Ando tão desanimada com o meu emprego, que passo o dia a contar.

São 9 horas. Saio de casa e levo a minha sobrinha ao colégio. Ainda sobra tempo, talvez um café e 30 dias para…

São 11 horas. Entro no escritório, ligo o computador e na folha em branco (odeio espaços vazios, quase tanto quanto o Universo), anoto: 180.

180 minutos, claro está! Cento e oitenta minutos… Respondo a e-mails de clientes, refaço a agenda, faço chamadas e o meu olhar, recai no canto inferior direito do monitor: 140. Ainda 140! Mais umas chamadas, uma cliente que chega, um fornecedor, mais chamadas, muitas chamadas. No fim do dia, o telefone já se anexou ao meu ouvido, pelo processo de osmose. Mais cartas, mais alguns e-mails.

69! Penso na ironia do número, imagino como seria divertido fazer um intervalo para realizar outra actividade que aquele conjunto de algarismos sugere. Um colega traz-me à realidade, quer tirar umas dúvidas. Dúvidas esclarecidas, mais dois e-mails, mais duas chamadas.

34! Gostava mais do número anterior, mas este não vem sem vantagens. Menos de uma hora. Mais umas chamadas, um fornecedor pede uma reunião. Mais umas chamadas.
1! Um minuto. São 14 horas, vou almoçar. 


Duas horas livres.

Vou até ao ginásio, talvez uma sauna, pois não tenho tempo para mais. Isso, uma sauna e uma sandes. O meu livro, o que estou a ler e o que estou a escrever, sim, é sempre um prazer algumas páginas de ambos.
Quinze minutos para as dezasseis. Dirijo-me ao escritório. Sento-me à frente do computador e anoto: 240…184…173…163…107… (osmose completa) …91…80…48… (não vi o 69 passar) …40…28…algo me distrai, quando olho para o relógio, está na hora de sair.

Adeus contas de subtrair. Até amanhã!

Talvez vá ao cinema.

Nota: Em homenagem ao meu professor da 1ª classe que me ensinou as “contas de menos”.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

No passado dia 15 de Maio (ontem), dei por mim a ler a coluna do D. José César das Neves, no jornal Destak, do mesmo dia e fiquei com uma enorme vontade de contrapor as suas ideias, de lhe dizer que estava errado, que as coisas não são assim tão simplistas e muito menos podemos escrever com falsos moralismos.

Na altura não me recordei como poderia fazer, mas finalmente os meus neurónios trabalharam e lembrei-me do meu blog. É verdade que apenas umas 14 pessoas o lêm em média por dia e que provavelmente, serão sempre as mesmas, mas pelo menos, livro-me deste sapo que está engasgado e não consigo engolir. Pois bem, vamos por partes. No citado texto, o Dr. José Neves, criou uma explicação (para um tema sobre o qual, foi talvez obrigado a escrever), tendo por base “Um grave erro no conceito de desenvolvimento” e na realidade existe um, mas não o que foi apresentado. Para começar, houve evolução no campo das artes e do pensamento.

Se houve algo realmente novo? Não. Melhor?! Não.

Uma evolução é isso mesmo, um “up-grade” de algo que já foi criado, um sair da caixa, pensar e resolver noutro ponto de vista. Não tem que ser melhor nem pior, é apenas evolução. E já agora, Hitler, Atila, Marquês de Pombal, Nero, Inquisição Espanhola, Saddam e companhia, não têm graus de comparação, são o que são. Mas até aqui tudo bem, é uma opinião, eu também tenho a minha, aliás tenho muitas.

Contudo, ainda no mesmo parágrafo diz para finalizar, que a violação e pedofilia ainda são repudiados. Errado. Muito errado. Não é preciso voltarmos muitos anos atrás para nos recordarmos dos casamentos combinados pelas famílias, como acto socialmente aceite e recomendado. O que seriam as noites de núpcias de mulheres e homens casados obrigados, que não uma perfeita violação de vontades e corpos?

Antepassados com orientações claras? Realmente eram, mas muito mais violentas que as de hoje. Pensemos em quantas meninas casadas em fase pré-adolescente e adolescente, com homens dez, quinze, vinte, cinquenta anos mais velhos? Aqui temos um autêntico, dois em um; não só a pedofilia era socialmente aceite, como a violação do corpo e da vontade. A frase correcta teria sido: A violação e a pedofilia são hoje, as únicas práticas repudiadas.

Quanto à confusão de critérios e à liberdade, tem que convir que ninguém é realmente livre, não na nossa sociedade judaico-cristã. Que menina é hoje educada pelos seus pais para ser livre sexualmente? Não têm, hoje em dia, os pais e a sociedade o mesmo discurso que receberam da catequese, dos seus próprios pais e avós? Não apelam todos à modéstia, o reduzido número de namorados e a um casamento com filhos? Não continuam as meninas a crescer a pensar que um dia serão as princesas das suas casas, com um único príncipe encantado?

Houve realmente um período de grande desorientação sexual na história moderna e esse acabou nos anos 80, quando uma doença sexualmente transmitida ocupou o lugar do antigo Inferno: a SIDA. Até aos anos 80, sexo seguro era não fazê-lo, num carro em andamento (a frase não é minha). Por isso, sim, existe uma confusão de critérios: todos queremos ser livres, donos dos nossos corpos e buscar a felicidade, mas o nosso inconsciente está agrilhoado a um espartilho educacional judaico-cristão, que nos impede de simplesmente ser.

Enquanto no passado a pedofilia, dentro de certos parâmetros, era aceite e recomendada, hoje é simplesmente rejeitada. Por isso, sim, existe confusão. Enquanto antigamente, as mulheres eram simplesmente objectos de troca e servidão sexual, hoje têm poder, por isso, sim, existe confusão.

Confusão porque existe uma evolução, ou melhor um retrocesso de mais de três mil anos. Estude um pouco os hábitos egípcios, a sua sociedade e veja como não só existia liberdade sexual (verdadeira), como as mulheres e os homens eram simplesmente iguais em todos os campos, quer económicos, religiosos e sexuais.


"Não houve evolução nenhuma, houve apenas um retrocesso, ou quem sabe uma revolução, um retorno à verdadeira evolução.

Quanto às atrocidades raras nas tribos primitivas…creio que já está largamente explicado, não?! Orientações claras dos nossos antepassados, quanto à moral sexual? Vejamos, temos o Kama Sutra do Séc. IV é uma boa orientação. Marquês de Sade, no Sec. XVIII? Que seria do prazer sem um pouco de dor! Shakespeare, Sec. XVI?! Oh meu Deus, o que se pode ler nas entrelinhas!

Mais recentes?! Deixe-me ver… Henry Miller, no início do Séc? Marguerite Duras, desde os anos 30? Sim! Realmente não houve inovação no campo da arte, do sexo ou da religião moral e sexual. Apenas vivemos mais do mesmo, onde tudo é permitido, pois o ser humano sempre fez o que quis, mas nada é recomendado.

No entanto, devo admitir, deve ter tido muito trabalho, chegar a um nível de consciência decrépita como a sua.

A minha avó sempre disse: Se não tens nada inteligente para dizer, fica calada.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Fui hoje acordada por esta notícia e logo, logo, lembrei-me da voz da minha avó a gritar, “Oh da Guarda, Oh da Guarda! Agarrem que é gatuno!”. Numa outra fase qualquer, haveria uma Iris a bradar aos céus e a gozar com a hipocrisia do Sr., mas essa é uma Iris idealista e feliz, que vê no “Ambiente e Ar mais Puro”, batalhas dignas de esforço e dedicação. Contudo, esta outra Iris, mais crítica e cansada, acha sinceramente, que no meio de tantos actos públicos perigosos do nosso Primeiro Ministro, o de fumar num avião fretado, apenas colocou em perigo a ele e àqueles que optaram por partilhar o “crime”, sem tomarem qualquer tipo de iniciativa. (Quem me dera que sempre assim fosse!) É que: No meio de um acordo ortográfico, que coloca o meu querido Português, no papel ingrato de prostituta de luxo, oferecida como extra, numa qualquer transacção comercial e política; No meio de um país onde a inflação real, não pára de aumentar; No meio de um país onde a maioria das pessoas com ordenado mínimo, não têm condições para alugar um tecto condigno, quanto mais comprá-lo; No meio de um país, onde os jovens continuam a trabalhar sem contrato, a recibo verdes e afins; No meio de um país onde os hospitais fecham, enquanto outros, já sobrelotados, enchem-se de camas ocupadas por causas sociais; No meio de um país onde a educação é uma anedota tal, que dá títulos a quem ainda não os merece e No meio de um país onde médicos e outras profissões, supostamente bem pagas, recorrem ao Banco Alimentar; um pseudo engenheiro que por um perverso sentido de humor do universo chegou a 1º Ministro, ter fumado num avião, não me parece sequer digno de uma nota de roda pé. Mas quando não existe uma oposição decente, capaz de dar notícias que superem a importância desta, então eu desejo que o Sr. Sócrates farte-se de fumar, que fume o suficiente para que o imposto sobre o tabaco se torne auto-suficiente para a diminuição do défice e permita a baixa do imposto sobre o combustível; que fume o suficiente para provocar a si mesmo, uma qualquer deficiência respiratória, que limite o seu jogging publicitário, para que não tenha que o ver de novo de calções; que fume o suficiente para o ver ser atendido pelo nosso sistema de saúde público (como se isso alguma vez acontecesse!); que fume o suficiente para perder a voz, para que outras que tentam fazer-se ouvir, sejam finalmente audíveis e que o reinado do Sr. “Engenheiro” Sócrates, termine de vez.
Talvez seja só eu...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Estava um dia com uma iluminação de lusco-fusco permanente. Eu caminhava de um lado para o outro, como animal enjaulado, de olhos semi-cerrados, como estratégia de filtragem da irritante luz. O comboio é anunciado e os meus olhos sorriram de alívio. Sentei-me no primeiro lugar que vi, senti-me felizarda por ir sentada. Abri o jornal. Não prestei atenção, não estava nos meus dias. Li as gordas com a lassidão própria de um Marajá. Uns números que surgiram em sub-título, 1 - 11 - 16 - 21 - 28 - e - 5 - 7, pareceram-me terrivelmente familiares, mas ao lado estava uma fofoca cor-de-rosa que parecia muito mais importante. Chegada ao Rossio, reparo que ainda faltam 45m para entrar no trabalho. Opto por tomar um café enquanto leio mais algumas páginas de um livro que estava na carteira.
O empregado reconhece-me (sou cliente habitual) e pergunta-me se já confirmei o meu jogo. Respondo que nem me recordava de tal e entrego-lhe o pequeno papel. Ele volta pouco depois com cara de caso e entrega-me dois papeis. Diz-me ao ouvido; "O melhor será ir até ao banco e depositar isto!". Não fiz caso, estava mesmo distraída. Agradeci, paguei o café e saí, sem ler nada. quando me dirigia para o metro, um raio de lucidez atingiu-me e então apercebi-me da familiaridade dos números do jornal. Olhei para o talão que o rapaz havia dado e lá estavam eles de novo. Olhei à volta. Mesmo ali nos Restauradores, uma agência da Caixa Geral de Depósitos. Dirigi-me ao Balcão (estranhamente não estive 2 horas à espera) e mostrei o talão. O Sr. sorriu, como eu ainda não havia feito e disse-me que ficasse descansada, tratariam de tudo. Assinei duas folhas e o mesmo homem disse-me que adiantariam dez milhões. Porque não?!
Telefonei ao escritório e disse que estava doente, talvez ficasse em casa a recuperar durante uns dias. Desejaram-me as melhoras e eu ri-me, alto e em bom som, quando desliguei o aparelho portátil. Finalmente festejei. Comprei coisas, muitas coisas. Coisas para mim, para os que me são próximos e para os que já nem por isso, mas comprei na mesma, podia ser excêntrica. Comprei quatro casas (sonho continuamente protelado), contratei arquitectos e uma empresa para as recuperar segundo as minhas instruções. Comprei quatro carros, um para cada membro da família mais chegado (incluindo o meu cunhado). Organizei uma festa de celebração. Na festa conheci o homem da minha vida, dos meus sonhos. Casei-me (coisa que jurei nunca mais voltar a fazer) e tive dois filhos lindos. A vida corria bem.
Depois uma noite estou a dançar com o meu marido e, uma mudança brusca e sem sentido de música transporta-me de Frank Sinatra (I've got You Under My Skin), para climas mais tropicais, onde Los Mescaleros tocavam Mondo Bongo ao vivo e a fisionomia do meu parceiro, como que por efeito especial duma classe de letra de fim de abecedário, muda e eu sou substituída por uma Angelina Jolie, que dança vestida de branco. Eu afasto-me, observo-a a dançar com um embriagado Brad Pitt, depois espreguiço-me e sinto-me quente. Abro um olho. Uma luz azulada, pisca do meu lado direito e reconheço o toque.
 
Levanto-me, desligo o alarme do telemóvel. São quase oito horas. Deixei-me dormir.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

- Tudo é uma decepção. - Não! Tudo é uma ilusão, mas enquanto materializares a ilusão, ela nunca te decepcionará. - Isso faz todo o sentido. Nota: Apenas fazia sentido àquela hora, agora, não entendo.
É quase sempre insuportável, quando aquele dia do mês surge. Não só pelo mal estar, dores e acessórios pouco estéticos, mas sobretudo, porque foi mais um ciclo que se desperdiçou, mais uma oportunidade que se esgotou e o meu sonho de ser mãe...cada vez mais longe.
(Oh, quantas promessas por cumprir?! Quanto tempo perdido!) Ainda por cima chove. Não faz mal, algo que verte as lágrimas que já não contenho. Não me telefonem. Não me falem. Quero silêncio, quero o conforto dos meus lençóis, o seu toque suave na minha pele. Na ausência de outro tipo de toque, este terá que servir. Lá fora continuava a chover.
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