segunda-feira, 31 de março de 2008

Nos últimos tempos tenho visto em tudo quanto é lado o apelo ao medo. Os jornais atiram com notícias sensacionalistas de pavor e pânico nas ruas, fazendo crer que basta colocar o pé fora de casa para sermos assaltados, ou vítimas de um novo desporto radical a que teimam chamar "carjacking".
As pessoas andam na rua cheias de medo, telefonam umas às outras a dizerem: "Tem cuidado, não saias à noite, nunca sozinha!", etc... etc... e tal. Ensinam aos filhos a disciplina do medo e transmitem os seus próprios receios aos outros. OK. É verdade que as coisas estão a caminhar para algo mais estranho, mais complicado, mas não devemos ser nós, a ter medo. Quem deve ter medo, são os próprios assaltantes, ladrões, gatunos. Eles é que devem de ter medo das repercussões dos seus actos. Nós não temos que alterar o nosso estilo de vida, apenas para que eles se sintam menos tentados. Agora ter medo?! Ter medo de viver, de sair, de caminhar, de contemplar a lua?! Talvez tenha mais um pouco do que tinha antes, é verdade. Sempre aprendi que os verdadeiros heróis não são os que não têm medo, mas sim aqueles que o superam. O medo é essencial para nos manter atentos, para introduzir no nosso corpo a dose certa de adrenalina que nos faz superar os obstáculos. O importante é dar-lhe apenas o lugar que ele merece: Despertador de coragem. E eu quero ter coragem de viver e de não me deixar encarcerar pelos bandidos.

sábado, 29 de março de 2008

Há quanto tempo não ouvem esta expressão? Petrodolar? Algumas expressões caem em desuso, mas não deixam de fazer sentido por isso. Petrodolar significa que o negócio do petróleo está tão intrisecamente ligado aos EUA, à sua economia e à sua moeda, que não existe outra forma de negociar o crude sem ser com notas verdes dos filmes de Hollywood, e ainda hoje é assim. O barril de crude é negociado em dólares e esse valor continua a subir de dia para dia. Esta é a verdade 1.

Agora a verdade 2: Para todos os países, incluindo nós europeus (leia-se portugueses), o preço do petróleo é importante; aumentando o seu preço, quase tudo o resto aumenta.

Facto 1: Em 2000, 1 dólar valia pouco mais de um euro. Mas ao longo de oito anos, o velhinho e gigante dólar é mais pequeno que o forte e vigoroso adolescente euro. 1 euro vale cerca de 1,5 dólares.
Verdade 3: Quando ouvimos falar que o barril de crude hoje custa 102 dólares, podemos ser levados a pensar (sim, o governo assim quer) que para nós europeus (leia-se portugueses) também custa mais, ou menos, 102 euros, mas não é verdade. Um barril de crude a 102 dólares custa-nos a nós...tcharan...mais, ou menos, 66 euros.
Facto 2: Não quero ser linear, até porque Einstein baralhou isto tudo com a teoria da relatividade, mas quase que aposto, com "relativa certeza", que esta verdade 3 é uma verdade que muita gente quer apelidar de mentira (como eu gosto de uma verdade falaciosa), mas não é. O petróleo custa-nos hoje, a nós europeus (leia-se portugueses), aproximadamente o mesmo que nos custava em 2000; contudo ouvimos os nossos políticos afirmar diariamente que com o aumento do preço do petróleo aumenta inflação e, consequentemente, o nosso custo de vida.
Longe de mim chamar mentiroso a alguém, mas quando alguém diz uma "inverdade" , não estará a mentir?
Agora imaginem a política como uma corrida no fim da qual existe um prémio para quem mais "inverdades" disser sem parecer mentiroso. Quem acham que ganharia?

Dica: Alguém que nunca falha aos treinos

Nota: taxas e valores aproximados ao dia da mensagem

Nota2: É quase um título de Blog intelectual, hein?!

sexta-feira, 21 de março de 2008

Quando acordei deparei-me com um lindo dia azul. Um daqueles dias, que nos faz recordar os contos de fadas, de florestas encantadas, de paisagens bucólicas e não pude evitar de me recordar um texto que li há alguns anos. Por isso decidi partilhar com vocês.

A Primavera

Ai, que lumes e perfumes! Ai, como riem os prados! Ai, que alvoradas se ouvem! (Romance popular) No meu entredormir matinal, irrita-me uma endiabrada gritaria do rapazio. Finalmente, sem poder dormir mais, levanto-me, desesperado, da cama. Então ao olhar pela janela aberta, vejo que quem faz barulho são os pássaros. Saio para o horto e dou graças a Deus por este dia Azul. Concerto livre de bicos, fresco e sem fim! A andorinha ondula, caprichosa, o seu gorjeio no poço; o melro assobia sobre a laranja caída; de fogo, o verdilhão palra no sobreiro; o chamariz ri longa e finamente no alto do eucalipto; e, no pinheiro grande, os pardais discutem desaforadamente. Que manhã! O sol põe na Terra a sua alegria de prata e de ouro; borboletas de cem cores brincam por toda a parte, entre as flores, dentro de casa, na fonte. O campo abre-se em estalidos, encrepitações, num fervedouro de vida nova e sã. É como se estivéssemos dentro de um grande favo de luz que fosse o interior de uma imensa e cálida rosa acesa.

Juan Ramon Jimenez - "A Primavera", do livro "Platero e Eu".

quinta-feira, 13 de março de 2008

Bem alto e em plenos pulmões. Gritar o meu desespero, a minha revolta, de forma audível e inconfundível, para que todos a conheçam. Eu sou a primeira a admitir os meus erros ortográficos (alguns são mesmo de estimação) e de usar, uma ou outra, liberdade gramatical (por vezes dá jeito), mas não consigo compreender, nem compactuar com o novo acordo ortográfico aprovado. Mas nada a fazer! Mais dia menos dia, serão lançados no mercado os novos dicionários da língua portuguesa, (quem diria que eu iria necessitar de um dicionário para saber escrever as palavras que sempre escrevi...), cheios de "palavras mais fáceis de escrever", explicam os entendidos, que "une os diversos portugueses falados pelo Mundo", (e eu para aqui a pensar que a língua era uma só e que já nos unia, numa suave lusofonia), que é como quem diz: o tradicional e o brasileiro.

Mas vou tentar fazer entender-me. O meu problema, começa todo com a ideia do "Mais fácil". Porquê mais fácil? O que temos agora é complicado? Não o falamos e escrevemos desde tenra idade? Porquê alterar o código de escrita? É que da última vez (e já lá vai algum tempo, viva a TV Cabo!) que eu mudei da SIC para a TVI e da TVI para a SIC em horário nobre, a diferença de sonoridade dos portugueses falados, era muito diferente e desculpem-me, mas a minha sonoridade é muito mais fechada, do que o português cheio de vogais abertas, falado pelos brasileiros. Consequentemente, ao escrevermos as palavras da mesma forma (ou de forma aproximada), as minhas vogais irão fechar-se ainda mais. Devo ser das poucas pessoas que ainda escreve "Baptista" e não "Batista", é porque se não sabem o som é diferente, apesar do "P" mudo. Devo ser das poucas pessoas (pelo que vejo escrito em todo o lado) que ainda acha que se conta às crianças "Histórias de encantar" em vez de "Estórias de encantar". Estória?! Esta palavra sugere um sucedâneo de Estore, algo que se coloca nas janelas para tapar o sol. Que diz "Contínuo" e não "Continuado", "Morto" e não "Matado", "Liberto" e não "Libertado". Eu quero dizer ACTOR, ACTRIZ, ACTO, ACTUAR, abrindo a letra "A" sem ter que a decorar como uma árvore de natal. Ela fica tão linda casada com o "C", supostamente mudo! Mas não!
"Temos que simplificar, criar pontes, todos nos temos que perceber. "
O que acontecia até agora? Vivíamos numa Torre de Babel? Ainda bem que existem diversas pronúncias, adoro um sotaque. Mas mudar o português? O português é só um... Chamem-me "Velha do Restelo"; agarrada ao passado e a fantasmas! Digam-me que o Português é uma língua viva e que, por isso, evolui! Digam tudo isso e muito mais, que eu continuarei a achar que isto é um erro crasso.
"Simplificar! Unificar!"
Então simplifiquemos, unifiquemos e falemos todos INGLÊS. É que apesar do Inglês ser uma língua bárbara, privada de diversidade de tempos verbais, de determinantes e adjectivos, acentos, pontuações e outras coisinhas que complicam uma língua, segundo os especialistas, está cheia de vantagens em relação ao Português. Não acreditam?! Aqui estão apenas algumas:
  1. Ecológica: Como tem menos palavras, tempos verbais, determinantes e poupam nas letras, acentos e pontuação, utiliza menos tinta de caneta e toners e, consequentemente, menos papel,
  2. Rápida: por todas as razões acima apresentadas e tenho a certeza que ainda arranjava mais algumas,
  3. Única: ficaria mais de metade do Mundo a falar a mesma língua.
Mas a melhor de todas é que é também mais Económica; é que com o Inglês, não tenho que comprar um novo dicionário; já lá tenho um na estante. Que me dizem?! Eu, por enquanto, apenas digo:
HAAAAAAAAAAAAAAAH (reparem na utilização do H mudo, não foi um acaso)

segunda-feira, 10 de março de 2008

...há alguns dias a questionar-me porque não conseguia definir o homem que procuro e hoje dei por mim a perguntar como posso eu descrever-me e por incrível que pareça, apenas as coisas negativas, ou com as quais eu não estou contente, surgiram automaticamente, nos meus pensamentos, como se fosse um casamento que não deu certo, os empregos e oportunidades que deixei escapar o mau humor, quando não durmo o que devia, o não ter nenhum relacionamento amoroso, digno desse nome desde o meu divórcio; ou o meu corpo, as características que realmente me definem. Li uma vez que quando andamos assim perdidos na nossa identidade não devemos insistir.

O melhor é mesmo, afastarmo-nos das questões complicadas e começar por um exercício simples: realizar uma lista de tudo aquilo que gostamos.

É inacreditável como depressa nos apercebemos da pessoa que somos quando vemos uma lista daquilo que gostamos, em vez daquilo que nos irrita.

A lista que saíu foi esta:

Gosto de escrever, é o meu refúgio, a minha forma de expressão; gosto de café; gosto de limão; gosto de tartes; gosto de filmes, de cinema; gosto de teatro; gosto tanto de ler, que sou incapaz de dizer que livro gostei mais; gosto de viajar, nem que seja na minha mente; gosto de estar em casa, de voltar para casa; gosto de companhia; gosto da solidão e do silêncio; gosto de Arquitectura e de História; gosto de rir de mim própria e com os outros; gosto de elogios, apesar de não saber o que fazer com eles; gosto de África e das suas terras encarnadas; gosto do cheiro que a chuva deixa no ar e do cheiro de livros antigos; gosto de andar a pé; gosto de chorar, liberta; gosto de crianças, das minhas e dos outros; gosto de Samba, Bossa Nova, Jazz e de Fado, gosto dos meus amigos e de estar com eles; gosto de comprar para os outros, mais do que para mim; gosto do Natal; gosto das desculpas para ter todos os amigos e famílias reunidos, nem que para isso tenha que inventar pretextos; gosto de rotinas, só assim posso ter o prazer de as quebrar; gosto de festas de gala; gosto de qualquer festa; gosto de telefonemas de família; gosto das discussões da minha família (admitam: ninguém tem razão); gosto de saltos altos; gosto da liberdades dos rasos; gosto de desportos radicais; gosto de adrenalina; gosto da minha família; gosto dos familiares que ficaram para trás (nunca os deixei de amar); gosto de trabalhar; gosto de organizar; gosto de stress q.b.; gosto de dançar; gosto de cães, gatos e cavalos; gosto de corpos masculinos em forma; gosto de um corpo quente junto meu ao deitar; gosto de perfumes de homem; gosto de beijos e de ser acordada com eles, ou de acordar alguém com; gosto de vinho e boa comida; gosto de cozinhar; gosto de receber os meus amigos e família em casa; gosto das manhãs; gosto das tardes; gosto das noites; gosto do calor, do sol e do mar; gosto do campo; gosto de amar; de perdoar; gosto de sentir; gosto muito de viver.

Agora tirem as vossas conclusões. Tenho a certeza que algumas serão de chorar a rir...


Subscribe to RSS Feed Follow me on Twitter!