sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Cenário: Grupo de três amigos, depois de um jantar em casa, duas horas de risco, duas horas de um DVD, duas garrafas de vinho tinto, vodka e água tónica.
1 - Adorava ser um gato.
2 - Um gato para quê?
3 - Ela quer ser a catwoman... - risos.
1 - Porque adorava deitar-me ao sol todo o dia, à noite receber festinhas do dono e ronronar no seu colo enquanto vê um pouco de televisão.
3 - Sempre podes casar com alguém que te sustente. - Serve-se de mais vodka.
2 - Só um homem para dizer algo tão absurdo.
1 - Sim, só um homem. - indigna-se por não ter sido entendida.
3 - Não percebo tanata indignação. Não disse nada de novo.
2 - Não tem nada de novo, mas é ofensivo para uma mulher moderna, para além de que não foi nada disso que ela quiz dizer.
1 - Pois não!
3 - Ilucidem-me...
1 - É mais do que a ausência de um trabalho, emprego, de obrigação. Tem mais a haver com a liberdade, com a ligeireza com que os gatos passam por este mundo: a sua memória curta; o seu corpo ligeiro; os seus afectos convenientes; a independência é total.
2 - Até que ponto se pode considerar independência, se nunca tiver havido nada de que se dependesse?
3 - A mais não seja, é-se dependente do facto de se ser independente.
2 - Isso é o vodka a falar. - o 3 e a 1 riem-se. - E um gato doméstico apenas é independente, porque depende do dono para tudo o que podia comprometer a sua independência.
3 - Na realidade é como continuar criança eternamente.
2 - Mas uma criança recorda e todo o ser humano é dependente das suas memórias. Eu não entendo o conceito de se ser independente.
1 - E eu só quis, por alguns minutos e sobre a influência do sono, ser um gato.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Ela avança num passo lento e controlado. Dir-se-ia uma gata pronta a atacar. Mal deixa marcas dos seus pés descalços, na terra molhada. Ela aproxima-se daquele homem que não conhece. Sente nos seus pés, a humidade da terra e sente frio. Um odor particular intensifica-se, mas não o consegue distinguir. Uma nuvem pesada, forma-se a cada exalação do soldado. Ela está agora perto o suficiente dele. Engole em seco, finalmente apercebe-se que tem sede e que os seus lábios estão secos. Humedece-os, ligeiramente com a língua e diz com uma voz quase inaudível: “Aqui estou!” Até para ela lhe pareceu fraca demais, tanto que se prontificava a repetir, quando ele afirma com uma voz dura e seca:
- “A partir de agora, sempre que eu der uma ordem, tu obedeces, sem sequer pensar. Compreendes?” - Ela acena que sim, mas ele de costas espera uma resposta audível. - “Compreendes?” - Grita de novo e, desta feita, ela responde com um sonoro
- “Se eu achar que devo.” - e ao terminar de falar, fecha os olhos, aguardando uma reacção violenta ao seu desafio. Ela conhece-o bem. Pareceria a qualquer um, que ela já tinha estado perante tal situação e tal como previra, ele vira-se com a intenção de lhe bater, mas ao aperceber-se tão previsível, sorri e diz apenas: -De onde saiu essa coragem toda? – ela apenas treme, mas agora de frio. Não lhe responde. Na verdade, não saberia o que lhe responder, nem ela mesmo sabe.
Estão tão perto um do outro, que conseguem sentir o calor emanado pelo corpo de ambos e, inconscientemente, gostam os dois, dessa aproximação. A disparidade de estaturas é absurda. Ela parece-lhe mais nova agora que está de pé, perto de si. Mas é imponente no seu metro e sessenta e picos, talvez mais. Até que não é baixa para uma mulher, ou menina. Ele toca no cabelo que lhe tapa parte do rosto e afasta-o para trás. Acaricia-lhe de novo a face, o pescoço. Desta vez ela pode senti-lo. A respiração dela acelera um pouco, apesar do seu controlo. Ele apercebe-se, sente-se bem e continua a sua exploração. A sua vontade era tocar-lhe por inteiro, de uma vez só, mas contém-se, mais uma vez, contém-se.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Cenário: A Caminho do comboio para vermos o Bolt.
- Tia!
- Diz amor. - continuamos a andar.
- As fadas existem? - olha para mim para tentar ver se vou inventar, porque ela às vezes já percebe.
- Claro que existem! - despacho, sabendo como é importante manter a imaginação activa, numa criança e porque aos sete anos é cedo de mais para perder a inocência, tem que ser cedo de mais.
- E todas as coisas fantásticas dos filmes e das histórias que me contas?
- Essas coisas podem não ser verdadeiras da forma como são contadas, mas existem.
- Porque é que nunca vi nenhuma dessas coisas?
- Porque vivemos em dimensões diferentes.
- Dimensões?
- Sim... - tento procurar uma explicação - Universos paralelos.
- Não entendo muito bem, tia? - franze o nariz. Como eu adoro aquelas ruguinhas que se formam em cima do nariz, quase na testa, quando ela o franze.
- Estás a ver aquela história que a tia te explicou sobre as rádios?! - ela tenta recordar-se - ...que o som de todas as rádios andam no ar ao mesmo tempo, apesar de não as ouvires nem as veres?! - ela acena que sim, mas pouco convencida - Nós só ouvimos as rádios, quando ligamos um rádio e colocamos numa frequência, certo? Percebeste isso? - Ela acena que sim - Os Universos e as dimensões são, mais ou menos, a mesma coisa. - torce o nariz - Todos vivemos no mesmo Mundo, no mesmo planeta, apenas temos frequências diferentes.
- Mas se nunca os vimos como é que sabemos que existem? - Já não é tão simples explicar as coisas.
- Porque às vezes, em determinadas situações, um tipo de energia faz com que nós possamos ver-nos uns aos outros.
- Quando?
- Por exemplo: quando caiem os dentes das crianças e elas colocam-nos debaixo da almofada...
- A fada dos dentes sente a energia e vem ao nosso mundo, tira o dente e põe uma moeda. - interrompe contente por ter compreendido alguma coisa, da minha maluquice.
- Exacto.
- E o mesmo com o Pai Natal, quando é Natal, certo?
- Certo! - Boa! Já expliquei mais uma que devia estar engatilhada.
- E o Coelho da Páscoa?
- Também.
- A fada dos sonhos, que me tirou a chucha?
- Também.
- E os monstros, tia? Os trolls e os vampiros e essas coisas?
- Esses têm mais poder que as coisas boas e andam entre os dois mundos com muita facilidade. Mascaram-se de humanos e estão sempre prontos a fazer maldades.
- A sério, tia?! - criar algum medo sempre fez parte da educação das crianças, porque não?!
- A sério! Por isso é que tens que ter muito cuidados a falar com estranhos, pois nunca se sabe se essa pessoa não é um desses monstros, mascarado.
- Ah! Está bem, tia. Vou ter cuidado, prometo.
- Agora vamos andar mais depressa ou perdemos o comboio.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009


Pois bem, Novo Ano, hora de balanço e feitas as contas, tenho muito por agradecer: agradecer por ter emprego (mesmo que seja um martírio), agradecer por ter família, agradecer porque vou tendo saúde, agradecer porque a minha sobrinha e os meus primos enchem-me de alegrias e de orgulho, agradecer pela amizade dos meus amigos de longa da data, agradecer pela consolidação de amizades recentes, agradecer por tudo aquilo que aprendi, agradecer por todas as experiências boas e más, que fazem de mim um ser humano, cada vez mais forte e melhor, agradecer por ainda ter mãe e por me irritar tantas vezes com ela, agradecer por ainda viver e por ainda ter tempo para continuar a ser melhor, a fazer melhor e a querer melhor.


A todos que contribuiram para tudo isto: Muito Obrigada!
A todos um Excelente ano de 2009!
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