terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Decidi que ia pedir ao Pai Natal alguém com quem podesse partilhar a minha vida, o meu corpo, a minha alma, a minha felicidade.

Li a carta cheia de orgulho da bonita caligrafia e do papel bem escolhido e num impulso, rasguei-a. Comecei a escrever outra, onde pedia, simplesmente, que fizessse com que algum homem se sentisse atraído por mim. Esta teve o mesmo destino que a anterior, pois pedia algo que já tenho. Pensei melhor e recomecei a escrever a terceira carta. O mesmo papel, a mesma caneta, a mesma caligrafia cuidada.

«Querido Pai Natal;

Na minha árvore, este ano, eu queria algo especial: um sentimento muito particular que uma vez já tive e que, por alguma razão alheia ao meu consciente, perdi. Este Natal, querido S. Nicolau, desejo ter de volta a "Capacidade de me Apaixonar".

Certa de que é um pedido complicado, compreenderei a demora da entrega.

Despeço-me com a mais elevada consideração e devoção.

Votos de um feliz Natal junto dos seus e que tenha neste e em todos os anos muito trabalho.

Com um beijo, desta que o respeitará para sempre. - Ass. Iris Barroso»

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

 
 
A minha irmã estava de folga, pelo que senti a falta da voz da minha sobrinha às seis da manhã, mas às sete, o telemóvel deu o alarme e ao som de Mondobongo de Joe Strummer e os Mescaleros, o meu cérebro, lentamente, acordou. Mas foi mesmo muito, muito, muito, lentamente. Começou por dar ordem aos olhos para abrirem, mas estes em contacto com a pele, decidiram ficar quietos. A pele sentia-se quente e protegida e pediu aos olhos, mais alguns minutos de tranquilidade.
 
O cérebro pediu então aos músculos que se mexessem, que se espreguiçassem, que induzissem alguma energia ao resto do corpo em plena greve, mas estes mal estremeceram, fizeram a pele sentir-se refrescada, numa nova posição e os nervos enviaram nova mensagem ao cérebro, pedindo mais alguns minutos de tranquilidade.
 
O cérebro pediu então, num apelo quase desesperado a todo o corpo para que acordasse, que já eram horas, mas os ouvidos ignoraram o novo alarme, os músculos recusaram a mover-se, os olhos mantiveram-se quietos e a pele, esse órgão tão importante e tantas vezes ignorado, gritou:
 
- Deixa-te ficar mais um bocado! - Assim o cérebro fez e, numa retirada estratégica, sonhou acordado por mais um pouco. À terceira repetição do alarme, encheu-se de energia e berrou:
 
- Acorda, corpo gordo e preguiçoso, o descanso acabou! - os olhos irritados mantiveram-se fechados e a pele aquecida pediu aos músculos para não se mexerem, mas estes, como soldados bem treinados e ofendidos pelo insulto gritado pelo cérebro, moveram o corpo num impulso, contraindo os abdominais, ao mesmo tempo que os bícepes e os lombares, deixando o corpo na posição de um gato a espreguiçar-se ao sol, com os lençóis a escorregarem para todo o lado.
 
A pele sentiu assim o frio da manhã e num arrepio mal humorado, disse então aos olhos:
 
- Abram lá! Já chega de mandriar!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Ela tem a sua primeira oportunidade de o observar, sem ser vista. Levanta os olhos e vê um homem, aparentemente um militar. A sua intuição assim o diz, a roupa que ele veste e a camisa que a aquece, também. O seu corpo é extremamente musculado, mas de certa forma, é-lhe familiar. Aquela configuração não a assusta, ela já a conhece bem. O cabelo dele é negro, quase tão escuro quanto o seu e curto, como convém a um bom soldado. É alto. Bem mais alto que ela. Talvez um metro e oitenta e cinco, quem sabe mais, mas ela não tem a certeza. Veste umas calças pretas, cheias de bolsos, fechos e presilhas. A camisa não mostra qualquer insígnia, talvez estivesse numa missão secreta, mas ela podia quase afirmar, que ele era um oficial. Deve rondar os trinta anos, mas não consegue ter a certeza. Existe pouca luz, para que se possam ver bem as feições. À cintura, um cinturão, uma navalha e uma arma automática, talvez uma Beretta de sete milímetros, num coldre. Instintivamente olha para a perna direita, junto à bota e repara que algo falta, mas não sabe o quê, nem sabe porque é que procurou.
- Vem cá. – ordena num tom seco e ríspido, que, mais uma vez, não lhe é estranho – Vem cá! – secunda, desta vez com uma voz mais grave que a assusta, fazendo-a encolher-se. No ar existe um cheiro a eucalipto, a terra molhada, a fumo e a musgo, que a embriaga. – Vem cá, imediatamente! – grita-lhe, por fim.
Ela levanta-se num gesto único de gata selvagem, quase sem barulho. Controla a sua respiração acelerada pelo medo e ganha uma nova confiança. Respira fundo. Aperta devagar todos os botões da enorme camisa que lhe foi emprestada e arregaça as suas mangas. Uma ordem tinha-lhe sido dada, mas ela não tinha conhecimento de que teria de obedecer. Não, rapidamente, pelo menos, e por isso, tomou o seu tempo. Ele ouviu-a. Tinha sido treinado para isso, mas estava confuso. Aquele pequeno ser baralhava-o mais uma vez. Ele ia gritar-lhe novamente, mas antes que fosse necessário, ele ouve-a a dar os primeiros passos.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

 

 

Há alguns dias (mesmo muito poucos), uma adolescente de 16 anos, acusou-me, publicamente, de ser a "Rainha das Tradições" e de ter uma imaginação demasiado fértil (Está descansada que eu sei que foi com boa intenção. Ainda não foi desta que o pai Natal te tirou da lista.)

Fez-me pensar e tive uma conversa comigo mesmo, demasiado longa, confusa e socrática, para aqui a reproduzir. Pensei e repensei, escrevi e rasguei, reescrevi e voltei a rasgar, escrevi uma última vez, li e cheguei à conclusão que, no mundo em que vivemos, na vida que tenho tido (com este eterno ganhar para depois perder), talvez e apenas essa imaginação, esse agarrar de pequenas coisas, tenha sido a razão para continuar com a vida.
 
Continuo, dia após dia, mês após mês, ano após ano, porque apesar de tudo, ainda acredito, ou pelo menos (se formos literais com a palavra imaginação), penso acreditar, que a vida vale a pena viver, que o Mundo está cheio de coisas boas e que a magia e todos os seus porta-vozes, nunca permitirão que a esperança morra... pelo menos a minha!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

 
 
Mesmo aquelas que vão sendo criadas ao longo do tempo num grupo restrito de pessoas, a quem alguns chamam família.
São lindas porque nos ajudam a recordar o quão importante é o trabalho em grupo, o quão forte pode ser uma família unida, o quão pouco importante é tudo aquilo, que por ser negativo e externo ao nosso grupo, não nos pode afectar e principalmente porque nos obriga a encontrar ainda mais vezes e a reforçar os laços que nos unem.
 
Mas para além de lindas são divertidas e este fim-de-semana voltou a provar isso mesmo. Graúdos e miúdos divertiram-se como reis, num dos cenários mais lindos do Mundo, mas como uma imagem vale mais que mil palavras, vejam vocês mesmos, no novo slide show, que coloquei na barra lateral, espero que gostem!

terça-feira, 25 de novembro de 2008

 

E é basicamente isso que tenho para dizer. Faltam 30 dias para a festa que eu mais gosto.

Já comecei os preparativos, (leiam-se as limpezas) e no fim-de-semana, a tradicional ida a Sintra, com a minha sobrinha e prima e talvez, até alguns amigos se juntem a nós. Espero que sim pois o que mais me agrada nesta época do ano é a partilha e eu adoro partilhar os momentos felizes com os meus amigos.
 
Por isso espero que aceitem o meu convite, que se juntem a nós neste passeio pela Serra Encantada, que redescubram os monumentos, a aura de magia, que desfrutem da companhia de quem lhes quer bem, que se deixem guiar pelos risos e brincadeiras dos mais pequenos, que mergulhem de cabeça no espírito natalício e deixem invadir as suas almas pela boa disposição, bom humor e boa vontade.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

 
 
Com todo o respeito e consideração que tenho pelos profissionais, acho um gozo, este tipo de títulos nos jornais. É um gozo por diversas razões, mas vou apenas enumerar duas.
 
A primeira é que infelizmente, os taxistas são uma profissão que coloca em risco, todos os outros condutores. A segunda é que nos tempos que correm, posso enumerar facilmente mais do uma dúzia de outras profissões que correm muito mais risco que os taxista, como por exemplo: Pescadores, Polícias, Bombeiros, Mineiros, Lojistas de Ourivesarias, Empregados de Bombas de Gasolina, Empregados de bares e Estabelecimentos Nocturnos, Professores, Enfermeiros, Médicos, ou simplesmente pessoas que passeiam na rua ou utilizam transportes públicos...
 
Não sei! Creio que foi só um pensamento.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

 

Sempre amei os filmes do 007 com as suas armas, os carros, a classe, as lutas, as roupas, as intrigas internacionais e o suposto secretismo. Sempre achei piada ao facto do 007 ser um agente muito pouco secreto.

E assim sendo, é claro que esperava ansiosa pela estreia de mais uma sequela deste enredo que adoro, principalmente, depois de ter ficado agradavelmente surpreendida com o Casino Royal, com o Daniel Craig.

Comprei os bilhetes à hora de almoço (não fossem esgotar) e arrastei a minha mãe comigo, até ao Alvaláxia, ontem à noite, antecipando cada segundo do filme que morria para ver. E foi isso que aconteceu! Morri a cada cena, sustendo a respiração a cada corrida, a cada movimento de luta, a cada mudança (que parecem intermináveis nos filmes) que o Daniel metia no seu Aston Martin, a cada piada entre ele e M, a cada trocadilho, a cada "gadget" (que têm um valor muito pequeno neste filme).
O 007 está mais mortífero que nunca e muito se deve ao novo Actor (Daniel Craig), que na minha opinião, simplesmente incorporou a essência do verdadeiro James Bond: classe, elegância, distância, eficiência e uma capacidade de matar com três movimentos, que afasta qualquer outro agente, herói, ou cartoon da sua liga, onde reina sozinho e sem par.
Nunca o 007, matou tantos vilões, sem ordem para matar. Genial!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Porque será que eu hoje sinto que todo o mundo está de parabéns? Porque é que eu sinto que mais do que os Americanos, hoje, todo o planeta elegeu um presidente?
E porque é que será, que eu acho isso algo maravilhoso, algo digno de memória, algo digno dos livros de História, algo digno de cidadãos do Mundo e para o Mundo? Martin Luther King (na fotografia) dizia há uns anos atrás, que tinha tido um sonho... hoje por volta das 4 da manhã eu vi esse sonho tornar-se realidade e convenci-me a mim mesma que tudo, mas mesmo tudo é possível e que nada, mesmo nada, pode parar o Homem, quando este sabe o que quer. "Yes we can!" Acho que a humanidade está de parabéns e eu estou feliz.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Sempre me disseram que a força do pensamento era a mais poderosa do universo. Até posso concordar com isso, não numa forma do livro "O Segredo", mas sim, é poderosa.
Mas para que um pensamento seja poderoso este terá que se materializar, tornar-se real, dar-se a conhecer e só assim poderá, na minha opinião, ter verdadeira força no mundo.
No outro dia, deparei-me com um pensamento e com uma tentativa de mensagem, bem num estore do comboio onde eu seguia (que poderão ver na fotografia desta mensagem) e fiquei triste. Fiquei triste, porque aqui está um exemplo de alguém, que por não ter prestado atenção nas aulas, nunca poderá dar a conhecer os seus pensamentos de forma eficaz e logo, nunca poderá fazer com que os seus pensamentos tenham realmente força para alterar algo.
É que para o povo se unir, Precisa de perceber a mensagem e se a mensagem não é bem transmitida, nunca passará de um pensamento, mas este estará para sempre encerrado na mente de quem o teve e nunca, nunca, poderá ter real força.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Ela estava a chorar. Não caíam lágrimas, porém ele conseguia vê-las, via-as inundarem o peito da sua amada, a encherem o seu pulmão, a asfixiarem-na de mansinho, a darem um nó na sua garganta, a taparem os seus ouvidos, a matarem-na.
Teve vontade de a beijar, de sorver cada gota daquele líquido límpido e salgado que tanto a angustiva. Teve vontade de a abraçar, de a abraçar com tanta força que a tornaria parte de si, um único ser indivisível, para sempre juntos, para sempre, eternamente, um.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sempre ouvi dizer que os sonhos eram a preto e branco. Sempre refutei tal ideia, até porque tenho uma grande capacidade de recordar o que sonhei e uma das coisas que se destacam nessas recordações são mesmo as cores.
Porém há mais de uma semana que sonho a preto e branco, sonhos tristes e cinzentos, como a claridade suja de Londres e a claustrofobia do grande monstro de cimento Nova Iorquino.
Há uma semana (mais coisa, menos coisa) que não acordo contente, com um sorriso nos lábios ou com a recordação de uma cor de céu impossível de existir, mas que apenas por ter estado na minha mente durante o sono, era real e palpável. Os meus sonhos coloridos fazem de mim uma mulher mais bem disposta e eu não os quero perder.
Se os sonhos fossem a preto e branco para sempre, a cor morreria em mim.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Como se a chuva ainda não tivesses sido prenúncio suficiente de que o Verão, realmente já tinha acabado (E continuo à espera do Verão mais quente dos últimos anos!), hoje, quando cheguei de manhã a Lisboa e estava a sair da estação do Rossio, um cheirinho familiar, que faz as minhas papilas gustativas começarem a salivar tal qual "Cão de Pavlov", anunciava o retorno das castanhas.
Convém dizer que são muito poucas as coisas que me fazem vibrar no Inverno e se pudesse, faria como os ursos e hibernaria durante todo este período. Entre essas raridades estão as castanhas, a promessa do Natal, as luvas, os chapéus e os cachecóis. Não me perguntem porquê, mas gosto destas 5 coisas, fazem-me ficar quente e bem disposta, pena que com elas vêm os casacos, os guarda chuvas, as meias, os camisolões, o frio, o frio e o frio.
Mas não hoje! Hoje houve apenas aquela promessa do sabor adocicado, suave e macio das castanhas na minha boca, nos assados e no arroz (que acabarão na minha boca também), acompanhadas de vinho novo, jeropiga e vinho do porto. E isso meus senhores, é um manjar dos céus e algo que faz sentir feliz.
Fiquem bem!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Andava eu a passear na net e a ver as novidades em anúncios e deparei-me com esta foto da D&G. à primeira vista, perdoem os meus olhos femininos, apenas prestei atenção aos belos abdominais dos modelos. Passado um pouco (alguns segundos apenas, não pensem mal de mim), reparei na sugestão do sonho erótico de violação e neste caso com mais do que um homem.
Continuei a procurar e fiquei a saber que a campanha estava em "águas de bacalhau", porque havia queixas de militantes feministas, exactamente por causa dessa mensagem. Pesquisei mais um pouco, li diversas opiniões e fiquei a saber, que mais de 75% das mulheres sonha em ter sexo com mais de um homem e que 35%, gostava que fosse forçado, ou de pelo menos, imaginar que seria forçado, num jogo sexual.
Assim sendo, e visto que o sexo na publicidade, até à data, tem sido uma fórmula eficaz como meio de venda para o mercado masculino, pergunto-me porque não utilizar um dos imaginários sexuais mais recorrentes da mente feminina, para vender? Apenas porque um grupo restrito de mulheres acha ofensivo?
Que acham?

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

 

No outro dia tive uma daquelas temidas conversas com a minha sobrinha de 6 anos.
- Tia! - chama enquanto se aproxima - Eu ouvi uma palavra, que é uma asneira, eu sei que não se diz... - Fala comigo em segredo - Posso perguntar o que quer dizer? - E eu, tremendo por dentro por não saber o que teria que responder, digo:
- Claro! Pergunta sempre o que quiseres. - Então, aproxima-se um pouco mais e diz-me ao ouvido:
- P*t*. - disse tão baixo que nem consegui ouvir, por isso repete, desta vez, uns décibeis mais elevados, mas ainda assim, de forma inaudível. Depois repete uma terceira vez e dessa vez eu entendo.
- Olha! - Tento ganhar tempo para pensar numa resposta - Vai buscar a escova para te pentear e depois eu digo o que quer dizer. - Ela obedece. Volta com a escova e eu sem saber muito bem como, começo a falar - Essa palavra... - Opto, conscientemente, por não a repetir - Quer dizer, ou melhor, é o nome que se dá a mulheres que têm muitos namorados. - Depois arrependo-me do que digo, não quero transmitir a ideia de que ela não pode namorar, ou experimentar. Sei que é cedo para isso, mas a dúvida pode ficar dentro dela e não quero. Para além disso, a palavra não quer dizer isso. - Melhor... não é que tenham muitos namorados, que não há mal nisso.
- Então o que é?
- É que ter muitos namorados é o trabalho delas. Os homens pagam para elas serem namoradas deles, por umas horas, uns dias e isso é errado. - Ela pensa, queixa-se por lhe estar a apertar demasiado o rabo de cavalo. Desisto e faço-lhe dois tótós.
- É só isso? - Pergunta inocente.
- Sim, é só!
- Pensei que se dizia essa palavra, porque eram más, ou coisas assim... tipo bruxa, ou assim! - Pensa e eu viro-a para ver o penteado - Percebes o que quero dizer? - Encolho os ombros - Se elas fazem de namoradas, não pode ser assim tão mau! - Calo-me, não sei como explicar melhor, ela ainda não iria perceber e ela continua. - Ouvi outra palavra.
- E qual foi?! - Esperava pelo pior.
- M*r*a! - Sorrio, pois depois da outra essa era fácil de explicar.
- Isso é uma palavra malcriada, para dizer cocó.
- Ah! Que engraçado. Que mal tem dizer cocó?! Era mais fácil, não era?
E eu rio-me com ela e penso, quanto tempo terei ainda para lhe ensinar o que as coisas querem dizer. Depressa virá o dia em que ela me ensinará, palavras que nunca terei ouvido antes.

terça-feira, 23 de setembro de 2008


...um desconhecido oferece flores.

"Se um desconhecido lhe oferecer flores isto é Impulse!"

Esta era uma frase de um anúncio que durante muito tempo andou de boca em boca e eu quase teria esquecido se ontem, um desconhecido não me tivesse oferecido uma flor.

A situação foi tão constrangedora e à frente de colegas de trabalho, que pensei que mais valia estar a ser presa pela polícia naquela altura, pois pelo menos teria como justificar o acontecimento. Mas agora, estar sentada à mesa de um restaurante e um perfeito estranho vir oferecer uma flor, foi surreal. Tão surreal que ele continua tão estranho quanto era ontem, pois nem sequer aceitei a flor, ou o cartão, nem sequer o quis ouvir, simplesmente, porque estúpida e destreinada, já não estou habituada a ser cortejada, a atitudes espontâneas, a pequenos devaneios do destino.

E o que mais irrita é que fui eu que não soube como lidar com a situação, logo eu que escrevo e falo sobre o assunto com tanta facilidade, com tanta, arrisco a dizer, imprudência, leviandade.

Devia ter aceite, devia ter trocado uma palavra simpática com ele, poderia criar uma esperança, ou simplesmente dado um sorriso, mas não, retraí-me, escondi a cara, disse que não podia falar naquele momento e sei lá mais o quê que me saiu da boca para fora.

Depois queixamos-nos, que os homens não são cavalheiros, que os homens não são românticos, que os homens isto e que os homens aquilo, mas quando são, arriscam-se como aquele pobre coitado, a serem tratados como loucos, pedintes, como se tivessem peste.

Como me recrimino!

Se por um acaso do destino está a ler esta mensagem, por favor, as minhas desculpas, mas compreenda... não estou habituada. A verdade é que aceito a flor e aceito o seu gesto e um dia mais tarde, talvez, também você, possa aceitar as minhas desculpas.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

O seu corpo continua a tremer, mas agora mais de medo, do que de frio. Ela está nua, não sabe onde está, não se recorda como é que lá foi parar, não reconhece a situação em que se encontra, mas mesmo assim, aquela criança, sente-se desprotegida e fraca, mas não vencida.

Ele apenas a observa. Não tece qualquer comentário, não faz soar qualquer ruído, não faz anunciar a sua presença. Ele apenas a observa, de pé, a três ou quatro passos da sua cama. Ela insinua falar, mas arrepende-se e decide também ela, observar.

Ela ainda não o olhou. Ele é o que mais receia naquele momento e, por isso, apenas sente a sua presença pesada. Reconhece de imediato uma tenda militar. Um ou dois candeeiros a petróleo, um candeeiro a gás, algum equipamento, incluindo duas mochilas semi-desfeitas. Duas camas em lados opostos, sendo uma delas, aquela onde se encontra.

No meio, entre as duas camas, mas por cima delas, uma mesa de construção tosca de troncos e cordas, junto à outra cama e preso com alfinetes à parede da tenda, está um enorme mapa-mundo e algumas fotos de satélite. Não consegue ler o que dizem. O chão está húmido e tem restos de sisal, por todo o lado. Na cabeceira da sua cama, encontram-se duas cordas, que percebe, pelas marcas dos seus pulsos, a sua função. Observa por fim, as marcas de uma luta sem glória, que se espalham pela sua pele leitosa, agora suja de lama, pó e suor. 

Ele cansa-se de a observar. Lentamente tira um cigarro e, num gesto aprendido no cinema, acende-o com um fósforo. Pela primeira vez, ela toma plena consciência que estava nua. Ela sabia que estava sem roupa, mas só agora se apercebe que isso faz com que ela esteja nua.

Ele sorri com o embaraço da rapariga. Dá um longo e lento trago no seu cigarro e despe a camisa. Dirige-se até a jovem e, displicentemente, alheio ao terror que lhe estava a provocar, pousa a peça de roupa, sobre as costas daquela, ainda criança. Não se demora. Tem receio da aproximação. Também ele tem medo. Afasta-se e olha o mapa do outro lado da tenda, virando as costas à sua prisioneira.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Antes de mais, quero pedir desculpas pela ausência prolongada, mas como devem ter notado pelo anterior mensagem, estive de férias e quando digo de férias, refiro-me a todo o tipo de férias. Não quis saber de notícias, não quis saber de internet, blogs, ou canetas, não usei o telefone com outro sentido que não o lúdico e cortei com qualquer tipo de preocupação.

O problema foi quando voltei. O Mundo não tinha tirado férias como eu e por isso mesmo, tinha avançado por um caminho que eu desconhecia. As férias acabaram e eu tive que voltar ao trabalho, aos telejornais, à net, ao meu patrão. Voltar a ficar encafuada num espaço de luz artificial, com um ser humano que se tem em tão alta conta que se esquece que não é ninguém sem quem o rodeia e a fazer um trabalho repetitivo, minuto, após minuto, segundo após segundo, transportou-me para uma zona de mal-estar tão escura e sombria que quase desesperei.

A verdade, é que se eu fosse outro tipo de pessoa, diria que estive com uma depressão, mas comigo, esse género de desculpas não colam. Depressões são um termo geográfico, que não se deviam aplicar a ser humanos.

Desesperei, tive vontade de gritar com todos e nenhum e gritei, amuei e chorei. Tive vontade de desaparecer de novo e para sempre, mas depois pensei, que tudo se deve a mim e às minhas escolhas e que apenas eu posso voltar a ter controlo na minha vida e em como eu ganho para a ter e assim, decidi que iria mudar de emprego até ao fim do ano e esperar que assim, volte a ser quem eu sempre fui.

Mas chega de desespero, chega de tristezas, há muita coisa a acontecer no nosso país, que são autênticas anedotas e claro isso é muito mais interessante. Aguardem pelas próximas mensagens, pois Eu estou de volta.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

... eu sinto-me assim!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Corta com a faca as cordas que a atam à cama e desfaz-se dela com uma displicência pouco comum nele. Acaricia-lhe o rosto. Tenta adivinhar quantos anos de vida tem aquele anjo, que ele mantém como seu refém. A sua anatomia confunde-o. Pensa que ela não deve ter mais de dezasseis anos, talvez ainda menos, apesar daquele corpo apresentar uma desenvoltura pouco comum, para tão pouca idade. O que o leva a pensar assim é o seu rosto e os cabelos escuros como o manto da noite que os envolve, que cobrem por completo o corpo até a cintura. “Sim!” - pensa ele – “O teu rosto denuncia uma adolescência menosprezada.”

A respiração dela acelera e a sua pele arrepia-se de frio. Ele afasta-se, mas apenas o suficiente, para poder observar a penugem loira que se irriçou. Ele sorri. Aquilo agradava-lhe. Apercebe-se que em breve ela acordará, recuperará os sentidos e afasta-se um pouco mais. O corpo dela treme agora de frio, naquela húmida tenda. Ele quis, num instinto paternal, tapar a sua nudez, mas numa disciplina militar, deteve-se.
 
Ela, até agora envolta num doce entorpecimento, começa a readquirir a consciência. Acordou aos poucos. Começou por sentir o frio na sua pele, depois a dor física de uma batalha que perdeu. Tentou por último abrir os olhos e com grande custo, acaba por ser bem sucedida. Um tecto de lona verde caqui, é o que vê primeiro. Esta foi a primeira imagem desta nova consciência. A segunda era-lhe transmitida em forma de sombra chinesa, fenómeno provocado pela luz bruxuleante dos candeeiros de petróleo, mas foi o suficiente para perceber que não estava só e num gesto instintivo, assume uma posição virginal, sentando-se naquela fria cama de campanha, agarrando junto do seu peito, os joelhos, como se, com o corpo colocado em tal posição, criasse uma concha que a iria proteger do olhar e das intenções daquele que partilhava com ela, aquele lugar.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Ontem fui totalmente surpreendida, pela mensagem mais insólita que ouvi em toda a minha vida, principalmente por ter vindo de um auto falante num espaço público.
Estava eu, ao fim de um longo e estupidificante dia de trabalho, à espera de um comboio mágico que me levasse dali embora, para um local onde os patrões sabem o que dizem, cumprem com promessas e obrigações, aceitam os nossos pedidos de férias como algo que é devido e justo e que irá aumentar a produtividade do colaborador, exactamente da mesma forma, que nós trabalhamos mais 21 horas extraordinárias, nas últimas três semanas, sem sequer perguntar se por acaso iriam ser pagas. Mas voltemos à voz. Estava eu assim, à espera, quando no auto falante, uma voz diz: "Cuidado com os carteiristas nesta estação!
"Cuidado com os carteiristas nesta estação!" - Oiço de novo, passado algum tempo, como confirmação da primeira vez. Não pude deixar de soltar uma gargalhada sonora, que saiu como alívio, depois de tudo o que passara durante o dia.
Depressa me recompus dos olhares de esguelha e comecei a pensar: É essa a solução para todos os problemas: uma voz de consciência, contínua e omnipresente, que nos alerta para todos os males. Estamos distraídos a olhar para o ecran plasma que passa um videoclip numa estação de metro e alguém nos avisa: "Cuidado com os carteiristas nesta estação!" Acordamos, ficamos alertados e se por acaso um carteirista nos assaltar (porque os amigos do alheio vivem dos rendimentos), a culpa é nossa, porque não tivemos aptidão para evitar o roubo, apesar de termos sido alertados para a possibilidade. A culpa não é da falta de segurança, de policiamento e muito menos da conjuntura económico-social, que cria os carteirista. A culpa é nossa.
Vamos a uma entrevista de emprego e tudo nos parece maravilhoso e estamos distraídos com a areia que nos lançam nos olhos e uma voz diz: "Cuidado com os aldrabões!" E pronto, já não nos podemos queixar dos patrões, só nos podemos queixar de nós, apenas de nós que aceitámos o emprego ainda assim.
Agora apliquemos isto a outras situações no mundo, no quotidiano, pela vida fora e teríamos um mundo, praticamente igual ao que temos hoje, mas onde cada um de nós, era responsável por cada coisa que acontece. Apenas nós e mais ninguém.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Ele leva-a ao colo, protegendo-a da noite fria. Pousa-a numa cama de campanha e ata-lhe os pulsos. Não quer preocupar-se com ela, mais tarde. Observa-a de longe, do outro lado da tenda. Ele receia este encontro, quase tanto como o anseia. O tempo passa. Ela dorme. Ele não a conhece, nem tem a certeza se o deve fazer. Aproxima-se. Observa-a atentamente, de perto, como se quisesse sentir, para além de olhar. Ele pretende mais do que pode. A sua missão é-lhe penosa. Ela está indiferente, no seu estado de inconsciência, alheia a esta atenção não pretendida. Ele observa-a de novo. Adivinha a cor dos seus olhos. Avalia cada detalhe daquele corpo jovem, daquela beleza em estado puro, ainda não madura, mas já longe de ser verde. Tudo lhe parece irreal. Ouve a sua respiração lenta, triste, fraca. Sente o calor que liberta a cada expiração.
Decide tocar-lhe, sentir a firmeza dos membros, constatar que é de carne e osso, a pobre jovem que jaz naquele leito improvisado. Sente a suavidade da sua pele e imagina que seja assim o toque da seda. Cheira o perfume jovial de rosas que exala do seu corpo e tem uma ligeira tontura. As razões podem ser várias para essa fraqueza. Nada comeu durante todo o dia. Sofre já a alguns dias os sintomas de uma gripe grave. Ou, simplesmente, o cheiro daquela presa, provoca-lhe emoções que ainda desconhece. A verdade é que nunca, os seus sentidos se baralharam desta forma. Toda aquela pureza ao alcance das suas rudes mãos, era-lhe estranha e havia-lhe sido privada, desde que se recordava como gente.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Quando ouvi na radio, que tinha havido problemas num Bairro, chamado Quinta da Fonte, pensei irónica para comigo; "As rosas devem ter atirados os seus espinhos contra as gipsofilas, por terem feito muito barulho depois da meia noite, não permitindo à Fonte, por falta de décibeis à altura, contribuir para o seu sono reparador, com o seu suave pingar!"

Mal eu adivinhava os verdadeiros problemas que estavam por trás de um nome tão belo como Quinta da Fonte.

Mas disto já todos falam, ninguém se cala. Todos dizem que é uma vergonha, que aquilo não pode acontecer, que é tapar o sol com a peneira. E é! É sim! Mas o que me choca não é isso. O que me choca são as palavras utilizadas e o que dizem na televisão.

Não preciso de ir muito longe para descobrir no mesmo parágrafo as palavras: Despejados; Gangs, Etnias, Pretos, Negros, Ciganos, entre outros adjectivos, que nem sequer me atrevo a escrever. Mas quando vem de uma das partes queixantes, então deixa-me com urticária.

O racismo existe, é latente, camuflado, mas existe. Eu sei que existe! Mas fico estupefacta, quando o racismo é mostrado com tanta clareza e crueldade. Não basta ver pessoas serem "Despejadas" num bairro social (por mais bucólico que seja o seu nome), apenas porque "dava jeito", a Expo98 estava à vista e precisavam de a concluir. Não basta ver as suas condições, pouco ou nada melhorarem. Também temos que ver como eles não fazem o mínimo esforço para o fazer. Sei que é uma questão de etnia, educação, tradição. Sei que os ciganos são povo racista, só se casam entre si, todos os outros são escumalha, mas os tempos mudam. Estão a ser dadas novas oportunidades, estão a oferecer-lhes de mão beijada uma nova vida, que pode, tão bem como qualquer uma das nossas, adaptar-se às novas circunstâncias.

A maioria destas pessoas, recebeu do Estado muito mais do que a maioria de nós já recebeu. Foi-lhes dado casa, um bairro, uma comunidade, subsídios e sei lá mais o quê! (Eu estive algum tempo desempregada e nem sequer o subsídio de desemprego tive direito, porque tinha sido uma rescisão de comum acordo.) Mas mesmo assim, ainda acham que devem revoltar-se, como povo, como comunidade, apenas e porque, não gostam dos novos vizinhos.

Eu gostaria muito de ver o que me aconteceria, se por um mero acaso, eu decidisse dizer que não gosto do meu vizinho porque ele é Árabe, Judeu, Africano, ou Latino? Provavelmente sofreria as consequências de tal acto racista. Mas não no caso destes senhores. Hostilizaram enquanto foi possível e agora que os outros estão tão organizados como comunidade (no pior sentido, mas ainda assim uma organização), sentem-se ameaçados? Bem feito! Bem feito para vocês de etnia cigana e bem feito para todos os que acham que só devem viver dentro do que conhecem, que rejeitam o que os rodeiam, que rejeitam o mundo e se acham o centro do mundo.

Um povo nómada, nunca na vida, deveria ser racista, pois geralmente são os primeiros a sofrer as consequências desse mal. Infelizmente quer-me parecer que as lições de História ficam esquecidas no exacto momento em que recebem as chaves de uma nova casa, para a qual nunca fizeram nada para merecer.

Sinto muita pena de todos os que são inocentes, de todos os que apenas queriam poder brincar livremente na rua, com o último brinquedo que alguém lhes havia dado, de o mostrar ao seu vizinho do lado, com os enormes olhos brilhantes de alegria e não de lágrimas e convidá-lo, com uma voz ainda aguda, porque é inocente e todas as vozes inocentes têm que ser obrigatoriamente agudas:

- Anda, podes brincar também. O que é meu é teu e nós somos do Mundo.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Porque será que um anúncio, um simples e até nem por isso especialmente bem realizado anúncio, persegue-me nos sonhos? É que, para além de ver os anúncios, espalhados por tudo quanto é lado, em cartazes de dimensões enormes, espaçados por menos de 2 minutos de caminhada, de ver o anúncio na televisão que repete, continuamente, a cada intervalo e de o ver na internet, ainda sonho com ele e até o chego a cheirar? Bem... podiam acontecer coisas piores.
Vocês lembram-se daquela urgência hormonal, que sentíamos enquanto adolescentes?
Aquilo não era urgência, era apenas precipitação.
Hoje, que já passei dos trinta, tenho a certeza disso. Agora sim, tudo parece urgir, o tempo escapa pelos dedos, como água, como areia e não há como voltar com os ponteiros do relógio para trás.
As coisas a fazer ainda são muitas; muitos planos a cumprir, muitas etapas para passar, muitas metas para cortar, mas os anos que surgem pela frente começam a ser, a cada dia que passa, cada vez menos, menos, menos.

terça-feira, 8 de julho de 2008

 

E porque hoje acordei ao som desta música:

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada
 
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes
 
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
 
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
 
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
 
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
Chico Buarque

sábado, 5 de julho de 2008

Sei que irei ser trucidada por causa desta opinião, mas não me importo. Não posso permitir que o politicamente correcto, seja mais importante do que a livre expressão de opiniões. Há certos pensamentos que têm e devem de ser comunicados, ou transformam-se em bombas relógio, prontas a explodir a qualquer momento, por isso, aqui vai.
Eu consigo compreender a Homossexualidade, a sério e quero que acreditem, pois é importante para perceberem o que quero dizer. Eu consigo compreender que um ser humano se sinta atraído, sexualmente, pelas características físicas e psico-comportamentais, do mesmo género e creio, que esta é a definição de homossexualidade.
Contudo, não consigo compreender a "Gaysice" e a Bichanice, pois sinceramente, se alguém se sente atraído pelas características do mesmo sexo, não devia, por princípio, sentir-se atraído por um produto de contra facção, ou substituto do sexo oposto. Consigo perceber um "Alexandre o Grande", sentir-se atraído por um corajoso e musculado Efaísto, cheio de cicatrizes de batalha, que marcam o seu corpo másculo. A sério que entendo e se eu fosse um homem, seria com toda a certeza Homossexual. Mas não consigo compreender um homem que se sente atraído pelas características do mesmo género, morrer de amores, por um "Castelo Branco", aos berros no meio do campo de batalha; "Ai acudam, acudam, que a espada dele é tão grande!", num tom de voz tão agudo, que apenas seria suportável numa diva de celulóide do cinema mudo. Nem compreendo que se tenham que tomar atitudes do género oposto, apenas para facilitar as nossas opções sexuais (porque é um acto em si, contraditório).
Entendo que o ser humano, nasce com uma dualidade sexual e que esta pode exprimir-se de uma forma mais feminina, ou mais masculina. Eu própria identifico-me muito mais, com alguns comportamentos e gostos masculinos, do que seria de esperar. Por isso, sim, também compreendo isso. No entanto, seria incapaz de me sentir atraída por outras mulheres. MAs isso sou eu, que talvez tenha nascido com o órgão sexual certo: homem que gosta de homens em corpo de mulher. (brincadeira, claro)
Agora eis que chegamos à questão: A Transsexualidade. O principal ponto, ou argumento de defesa desta prática, é a de as pessoas acharem que estão presas no corpo errado: homens que acham que são mulheres e vice-versa. Até aqui, tudo bem. Contudo, não são raros os casos que têm surgido, que me fazem pensar que a transsexualidade, não é mais do que o último recurso de um homofóbico extremo.
Podem garantir-me que, antes de qualquer mudança de sexo, as pessoas são altamente avaliadas e que apenas, os verdadeiros casos é que avançam. Mas se assim é, como se explica que os órgãos sexuais de origem, não lhes sejam retirados? Se são mulheres presas em corpos de homem, o pénis devia causar-lhe desgosto. Se é um homem, preso em corpo de mulher, ter menstruação, poder engravidar e até mesmo ter uma vagina, devia causar incómodo, náuseas e depressão. Mas isto continua a acontecer. Operações de transsexualidade, de mudança de género nada têm! São apenas um up-grade dúbio, e em vez de homens ou mulheres, passam a ser casos raros na natureza, de hermafroditismo. E isto tanto acontece, que agora tivemos uma mulher, que utilizando uma dispendiosa máscara de Carnaval de Homem, para poder levar uma vida social masculina, tirou umas férias da sua anterior aversão ao corpo feminino e não só engravidou, como deu à luz uma linda menina.
Ora, isto para mim não faz sentido.
A única forma de isto fazer algum sentido, é uma teoria que sempre defendi: A transsexualidade, não é mais do que, uma forma de Homofobia Aguda.
Eu explico. Um ser humano sente-se atraído pelas características físicas e psicológicas do mesmo sexo. Mas isso é errado. Foi o que sempre ouviu e aprendeu: É errado! - Gritam-lhe os sentidos. - Na sociedade em que vivemos, uma mulher gosta de homens e os homens gostam de mulheres.
E esta convicção cresce de forma tão grande, que se convencem a si mesmos: Estou preso no corpo errado, porque eu não sou homossexual. ser homossexual é errado, é mau, é pecado, é anti-natura, Deus assim não quis. Mas se calhar, Deus enganou-se e deu-me uma vagina em vez de um pénis. E se Deus, deu inteligência ao Homem e o Homem, inventou formas de corrigir o Erro Divino, então eu posso mudar. Mudar de sexo, namorar mulheres, casar-me com uma mulher e continuar aceite na sociedade. Sim, posso ser um homem, porque homossexual, é que não sou.
Pena só ser válido, até Deus voltar a enganar-se.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Quero deixar-me ir, quero entregar-me aos instintos, satisfazer a fome de sexo. Quero satisfazer a gula pelos seus lábios, pelo sabor da sua língua, pelo sal da sua pele.

Quero satisfazer o meu olfacto e cheirá-lo antes do sexo e cheirá-lo durante o sexo e cheirá-lo depois do sexo e já suado. Sinto saudades desse cheiro, que é só dele e que mais ninguém tem.

Quero satisfazer os meus olhos, observar a sua robustez física, a definição dos seus músculos delineados, os seus olhos esverdeados, invadir essa floresta, que de tão terna, só pode ser um reduto amazónico ainda por descobrir e encontrar a sua alma, a chama responsável por ele estar ali, quando podia estar em qualquer outro lugar, com qualquer outra mulher.


Quero satisfazer o meu tacto, a minha pele e sentir o toque forte das suas mãos, a força dos seus bíceps, tríceps, quadríceps, abdominais, glúteos, sentir o calor da sua pele, sentir a aspereza da sua barba por fazer, a suavidade acetinada do seu alter-ego, de sentir a doce dor da penetração, que depressa se transforma em puro prazer.

Quero satisfazer a minha audição, ouvir a sua voz grave segredando promessas, vomitando elogios ocos, quero ouvir os seus gemidos, o seu arfar, quero ouvir os seus pensamentos, quero ouvir o bater do seu coração.

Quero sobretudo, satisfazer a minha urgência uterina, quero agradar aos meus sentidos.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Estava uma solarenga manhã de Primavera e eu observava de longe e sem dar nas vistas, a azáfama da minha pequena sobrinha. Enquanto arrumava o quarto, fazia a cama e limpava o pó, a pequena menina de cabelos longos e dourados, parecia uma formiguinha, de um lado para o outro da varanda (o seu espaço de brinquedos); mexendo e remexendo, virando os cestos de cabeça para baixo e voltando a enchê-los com os mesmos objectos coloridos espalhados pelo chão, pela força da gravidade.
Era mais que óbvio que ela procurava algo, talvez um brinquedo com o qual sonhara, ou que alguma coisa a havia feito recordar. O certo é que estava decidida a encontrá-lo e continuava, numa busca metódica, na senda do objecto misterioso.
- Precisas de ajuda? - Pergunto solícita.
- Não tia! Obrigada! - A resposta foi tão seca e pronta que coloquei a hipótese,e também ela, não ter a certeza do que procurava.
Continuei com os meus afazeres, mas os meus ouvidos continuaram atentos à lufa-lufa ruidosa. Por vezes, ouvia-a suspirar, ou resmungar algo entre dentes e depois, quando estava prestes a chamá-la para irmos para a escola, o silêncio instalou-se.
Disse-me o meu instinto, que quando se trata de crianças, o silêncio nunca é bom sinal e preparava-me para ir ver o que se passava quando ouvi uma sonora gargalhada de satisfação, um Ah! Ah! de missão cumprida. Sorri ainda antes de ver o seu semblante angelical de enormes olhos pestanudos, avançar para mim, com uma confiança readquirida.
- Ainda demoramos muito, tia? - Perguntou ao esconder algo no bolso lateral da mochila laranja.
- É só vestires o casaco. - Sorri-lhe e ela obedeceu com o meu auxílio. - Podemos tomar um café, antes de irmos? - Sim, temos tempo. Respondi desconfiada. Fosse o que fosse que procurava, tinha utilização ao ar livre.
Descemos os três andares, apenas trocando olhares cúmplices e sorrisos. Ela, tagarela por excelência, não disse uma palavra durante o percurso feito de elevador. Assim que chegámos ao R/C, correu para a porta perguntando, enquanto abria:
- É um café, não é? - Acenei que sim, tentando conter a minha curiosidade.
- Não corras! - Disse antes de a porta do prédio bater com estrondo. "Já era hora de arranjarem a mola!" - Pensei, ao precipitar-me para a rua, pois ficar sem ver a minha bebé, era algo que não me deixava confortável.
Quando cheguei ao café, ainda a vi a correr para lá, já ela transportava, vitoriosa, a chávena para uma das mesas. Cumprimentei as pessoas que lá estavam e sentei-me para beber o líquido quente e energizante.
- Posso ir lá para fora? - Pergunta-me com os olhos brilhantes e expectantes.
- Mas não saias aqui da frente. - Recomendo e ela corre lá para fora com algo na mão, deixando a mochila em cima duma cadeira.
Olhei-a atenta, finalmente iria descobrir o segredo que me escondia. As suas mãos pequenas, seguraram em dois punhos amarelos, enquanto, com uma graça de serpente encantada, uma corda caiu no chão. Era um pouco grande, pelo que enrolou uma volta em cada mão e devagar, fez várias tentativas de rotação. Em menos de um minuto, a corda já passava por cima da sua cabeça e batia no chão, num movimento rotacional que seria perfeito, se não fosse, invariavelmente, interrompido pelos seus pés trapalhões, que se recusavam a sair do chão, quando a sua mente mandava.
Mudou de estratégia. Respirou fundo, deixou a corda quieta e pulou cinco vezes, apenas para verificar se não havia nenhuma pastilha elástica pegajosa, deixada por um qualquer duende brincalhão, que a estivesse a impedir de saltar, como se via a saltar na sua cabeça. Olhou mais uma vez, desconfiada, para a sola dos ténis e desviou-se, perto de um metro do local onde estava. A corda voltou a girar e desta vez, passou por completo, batendo 1, 2, 3 vezes no chão, antes de encontrar, de novo, os seus pés preguiçosos. Balbuciou qualquer coisa e recomeçou, desta vez, ais devagar. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, e de novo os pés.
- 1, 2, 3... - Ouvia-se a sua vózinha ofegante, mas muito concentrada. - 6, 7, 8, 9, 10... - A sua cara soltou-se e esboçou um sorriso de contentamento. - 13, 14... - Uma gargalhada. - 16, 17, 18... - Um gancho cai no chão. - 19, 20.
Pára cansada do esforço. Recupera o fôlego com inspirações rápidas. Tenho vontade de ir dar-lhe os parabéns, mas sei que nestas ocasiões, ficamos sempre atrapalhados, queremos mostrar a nossa façanha e nunca a conseguimos repetir. Sei perfeitamente, o quão frustrante essa sensação pode ser, por isso, deixei-me ficar sentada, lutando contra a minha vontade. Ainda podia dar mais quinze minutos e ela parecia tão feliz!
Em pouco tempo recomeça. Eu tiro o telemóvel da mala e começo a filmar.
- 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10... - E ri-se eufórica. - 13, 14, 15, 16... - Uma gargalhada, esta bem sonora. - 20, 21, 22, 23, 24... - Olha pelo vidro do café e confirma feliz que eu estou a ver. - 30, 31, 32, 33, 34, 35. - Parou. Correu para os meus braços, transpirada, desfraldada e despenteada. - Viste, Titi? Viste?! - Acenei que sim e dou-lhe um beijo na testa, ao mesmo tempo que lhe componho a roupa e o cabelo.

- Muito bem! Saltas muito bem! - Coloco-lhe a mochila às costas. - Ao princípio, não conseguia, mas agora é fácil. Antes era ainda bebé, era pequenina, tinha 4 anos. Mas agora já consigo. - Pois! O importante é não desistir. Quando não se consegue à primeira, respiramos fundo e voltamos a tentar, tantas vezes, quantas forem necessárias. Nunca se desiste. - Pois não tia! Eu não desisti.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Aí vem mais um Europeu e eu devia estar em pulgas, ansiosa para ver a prestação de Cristiano Ronaldo e companhia. Mas a verdade, é que não é assim.
O Cristiano Ronaldo ainda não me convenceu, os outros são todos muito novos e sem carisma e eu estou triste, nostálgica, porque queria muito estar a vibrar, com o melhor jogador de todos os tempos. Queria que finalmente, Luís Figo conseguisse dar um título à Selecção Nacional A. Queria, mas não posso ter.
Espero, por isso, que os miúdos me surpreendam, que Cristiano me convença e jogue para a equipa e não o contrário, e que em conjunto, me façam engolir estas palavras.
Força Portugal!
Figo, foste e serás sempre o melhor.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Quando pensávamos que o imaginário que nos era tão querido durante a nossa infância, não existia mais, que fadas, deuses e deusas, duendes e dragões, eram apenas histórias para nos adormecer, eis que recebo um e-mail, cheio de imagens de Auroras Boreais espectaculares e dou por mim a ver se existe algum monstro debaixo da minha cama e a fechar a porta do guarda fatos, antes de me deitar.


Porque há imagens que nos fazem pensar que o Mundo do Fantástico realmente existe, aqui fica esta, para vosso deleite.


quarta-feira, 21 de maio de 2008


Ando tão desanimada com o meu emprego, que passo o dia a contar.

São 9 horas. Saio de casa e levo a minha sobrinha ao colégio. Ainda sobra tempo, talvez um café e 30 dias para…

São 11 horas. Entro no escritório, ligo o computador e na folha em branco (odeio espaços vazios, quase tanto quanto o Universo), anoto: 180.

180 minutos, claro está! Cento e oitenta minutos… Respondo a e-mails de clientes, refaço a agenda, faço chamadas e o meu olhar, recai no canto inferior direito do monitor: 140. Ainda 140! Mais umas chamadas, uma cliente que chega, um fornecedor, mais chamadas, muitas chamadas. No fim do dia, o telefone já se anexou ao meu ouvido, pelo processo de osmose. Mais cartas, mais alguns e-mails.

69! Penso na ironia do número, imagino como seria divertido fazer um intervalo para realizar outra actividade que aquele conjunto de algarismos sugere. Um colega traz-me à realidade, quer tirar umas dúvidas. Dúvidas esclarecidas, mais dois e-mails, mais duas chamadas.

34! Gostava mais do número anterior, mas este não vem sem vantagens. Menos de uma hora. Mais umas chamadas, um fornecedor pede uma reunião. Mais umas chamadas.
1! Um minuto. São 14 horas, vou almoçar. 


Duas horas livres.

Vou até ao ginásio, talvez uma sauna, pois não tenho tempo para mais. Isso, uma sauna e uma sandes. O meu livro, o que estou a ler e o que estou a escrever, sim, é sempre um prazer algumas páginas de ambos.
Quinze minutos para as dezasseis. Dirijo-me ao escritório. Sento-me à frente do computador e anoto: 240…184…173…163…107… (osmose completa) …91…80…48… (não vi o 69 passar) …40…28…algo me distrai, quando olho para o relógio, está na hora de sair.

Adeus contas de subtrair. Até amanhã!

Talvez vá ao cinema.

Nota: Em homenagem ao meu professor da 1ª classe que me ensinou as “contas de menos”.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

No passado dia 15 de Maio (ontem), dei por mim a ler a coluna do D. José César das Neves, no jornal Destak, do mesmo dia e fiquei com uma enorme vontade de contrapor as suas ideias, de lhe dizer que estava errado, que as coisas não são assim tão simplistas e muito menos podemos escrever com falsos moralismos.

Na altura não me recordei como poderia fazer, mas finalmente os meus neurónios trabalharam e lembrei-me do meu blog. É verdade que apenas umas 14 pessoas o lêm em média por dia e que provavelmente, serão sempre as mesmas, mas pelo menos, livro-me deste sapo que está engasgado e não consigo engolir. Pois bem, vamos por partes. No citado texto, o Dr. José Neves, criou uma explicação (para um tema sobre o qual, foi talvez obrigado a escrever), tendo por base “Um grave erro no conceito de desenvolvimento” e na realidade existe um, mas não o que foi apresentado. Para começar, houve evolução no campo das artes e do pensamento.

Se houve algo realmente novo? Não. Melhor?! Não.

Uma evolução é isso mesmo, um “up-grade” de algo que já foi criado, um sair da caixa, pensar e resolver noutro ponto de vista. Não tem que ser melhor nem pior, é apenas evolução. E já agora, Hitler, Atila, Marquês de Pombal, Nero, Inquisição Espanhola, Saddam e companhia, não têm graus de comparação, são o que são. Mas até aqui tudo bem, é uma opinião, eu também tenho a minha, aliás tenho muitas.

Contudo, ainda no mesmo parágrafo diz para finalizar, que a violação e pedofilia ainda são repudiados. Errado. Muito errado. Não é preciso voltarmos muitos anos atrás para nos recordarmos dos casamentos combinados pelas famílias, como acto socialmente aceite e recomendado. O que seriam as noites de núpcias de mulheres e homens casados obrigados, que não uma perfeita violação de vontades e corpos?

Antepassados com orientações claras? Realmente eram, mas muito mais violentas que as de hoje. Pensemos em quantas meninas casadas em fase pré-adolescente e adolescente, com homens dez, quinze, vinte, cinquenta anos mais velhos? Aqui temos um autêntico, dois em um; não só a pedofilia era socialmente aceite, como a violação do corpo e da vontade. A frase correcta teria sido: A violação e a pedofilia são hoje, as únicas práticas repudiadas.

Quanto à confusão de critérios e à liberdade, tem que convir que ninguém é realmente livre, não na nossa sociedade judaico-cristã. Que menina é hoje educada pelos seus pais para ser livre sexualmente? Não têm, hoje em dia, os pais e a sociedade o mesmo discurso que receberam da catequese, dos seus próprios pais e avós? Não apelam todos à modéstia, o reduzido número de namorados e a um casamento com filhos? Não continuam as meninas a crescer a pensar que um dia serão as princesas das suas casas, com um único príncipe encantado?

Houve realmente um período de grande desorientação sexual na história moderna e esse acabou nos anos 80, quando uma doença sexualmente transmitida ocupou o lugar do antigo Inferno: a SIDA. Até aos anos 80, sexo seguro era não fazê-lo, num carro em andamento (a frase não é minha). Por isso, sim, existe uma confusão de critérios: todos queremos ser livres, donos dos nossos corpos e buscar a felicidade, mas o nosso inconsciente está agrilhoado a um espartilho educacional judaico-cristão, que nos impede de simplesmente ser.

Enquanto no passado a pedofilia, dentro de certos parâmetros, era aceite e recomendada, hoje é simplesmente rejeitada. Por isso, sim, existe confusão. Enquanto antigamente, as mulheres eram simplesmente objectos de troca e servidão sexual, hoje têm poder, por isso, sim, existe confusão.

Confusão porque existe uma evolução, ou melhor um retrocesso de mais de três mil anos. Estude um pouco os hábitos egípcios, a sua sociedade e veja como não só existia liberdade sexual (verdadeira), como as mulheres e os homens eram simplesmente iguais em todos os campos, quer económicos, religiosos e sexuais.


"Não houve evolução nenhuma, houve apenas um retrocesso, ou quem sabe uma revolução, um retorno à verdadeira evolução.

Quanto às atrocidades raras nas tribos primitivas…creio que já está largamente explicado, não?! Orientações claras dos nossos antepassados, quanto à moral sexual? Vejamos, temos o Kama Sutra do Séc. IV é uma boa orientação. Marquês de Sade, no Sec. XVIII? Que seria do prazer sem um pouco de dor! Shakespeare, Sec. XVI?! Oh meu Deus, o que se pode ler nas entrelinhas!

Mais recentes?! Deixe-me ver… Henry Miller, no início do Séc? Marguerite Duras, desde os anos 30? Sim! Realmente não houve inovação no campo da arte, do sexo ou da religião moral e sexual. Apenas vivemos mais do mesmo, onde tudo é permitido, pois o ser humano sempre fez o que quis, mas nada é recomendado.

No entanto, devo admitir, deve ter tido muito trabalho, chegar a um nível de consciência decrépita como a sua.

A minha avó sempre disse: Se não tens nada inteligente para dizer, fica calada.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Fui hoje acordada por esta notícia e logo, logo, lembrei-me da voz da minha avó a gritar, “Oh da Guarda, Oh da Guarda! Agarrem que é gatuno!”. Numa outra fase qualquer, haveria uma Iris a bradar aos céus e a gozar com a hipocrisia do Sr., mas essa é uma Iris idealista e feliz, que vê no “Ambiente e Ar mais Puro”, batalhas dignas de esforço e dedicação. Contudo, esta outra Iris, mais crítica e cansada, acha sinceramente, que no meio de tantos actos públicos perigosos do nosso Primeiro Ministro, o de fumar num avião fretado, apenas colocou em perigo a ele e àqueles que optaram por partilhar o “crime”, sem tomarem qualquer tipo de iniciativa. (Quem me dera que sempre assim fosse!) É que: No meio de um acordo ortográfico, que coloca o meu querido Português, no papel ingrato de prostituta de luxo, oferecida como extra, numa qualquer transacção comercial e política; No meio de um país onde a inflação real, não pára de aumentar; No meio de um país onde a maioria das pessoas com ordenado mínimo, não têm condições para alugar um tecto condigno, quanto mais comprá-lo; No meio de um país, onde os jovens continuam a trabalhar sem contrato, a recibo verdes e afins; No meio de um país onde os hospitais fecham, enquanto outros, já sobrelotados, enchem-se de camas ocupadas por causas sociais; No meio de um país onde a educação é uma anedota tal, que dá títulos a quem ainda não os merece e No meio de um país onde médicos e outras profissões, supostamente bem pagas, recorrem ao Banco Alimentar; um pseudo engenheiro que por um perverso sentido de humor do universo chegou a 1º Ministro, ter fumado num avião, não me parece sequer digno de uma nota de roda pé. Mas quando não existe uma oposição decente, capaz de dar notícias que superem a importância desta, então eu desejo que o Sr. Sócrates farte-se de fumar, que fume o suficiente para que o imposto sobre o tabaco se torne auto-suficiente para a diminuição do défice e permita a baixa do imposto sobre o combustível; que fume o suficiente para provocar a si mesmo, uma qualquer deficiência respiratória, que limite o seu jogging publicitário, para que não tenha que o ver de novo de calções; que fume o suficiente para o ver ser atendido pelo nosso sistema de saúde público (como se isso alguma vez acontecesse!); que fume o suficiente para perder a voz, para que outras que tentam fazer-se ouvir, sejam finalmente audíveis e que o reinado do Sr. “Engenheiro” Sócrates, termine de vez.
Talvez seja só eu...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Estava um dia com uma iluminação de lusco-fusco permanente. Eu caminhava de um lado para o outro, como animal enjaulado, de olhos semi-cerrados, como estratégia de filtragem da irritante luz. O comboio é anunciado e os meus olhos sorriram de alívio. Sentei-me no primeiro lugar que vi, senti-me felizarda por ir sentada. Abri o jornal. Não prestei atenção, não estava nos meus dias. Li as gordas com a lassidão própria de um Marajá. Uns números que surgiram em sub-título, 1 - 11 - 16 - 21 - 28 - e - 5 - 7, pareceram-me terrivelmente familiares, mas ao lado estava uma fofoca cor-de-rosa que parecia muito mais importante. Chegada ao Rossio, reparo que ainda faltam 45m para entrar no trabalho. Opto por tomar um café enquanto leio mais algumas páginas de um livro que estava na carteira.
O empregado reconhece-me (sou cliente habitual) e pergunta-me se já confirmei o meu jogo. Respondo que nem me recordava de tal e entrego-lhe o pequeno papel. Ele volta pouco depois com cara de caso e entrega-me dois papeis. Diz-me ao ouvido; "O melhor será ir até ao banco e depositar isto!". Não fiz caso, estava mesmo distraída. Agradeci, paguei o café e saí, sem ler nada. quando me dirigia para o metro, um raio de lucidez atingiu-me e então apercebi-me da familiaridade dos números do jornal. Olhei para o talão que o rapaz havia dado e lá estavam eles de novo. Olhei à volta. Mesmo ali nos Restauradores, uma agência da Caixa Geral de Depósitos. Dirigi-me ao Balcão (estranhamente não estive 2 horas à espera) e mostrei o talão. O Sr. sorriu, como eu ainda não havia feito e disse-me que ficasse descansada, tratariam de tudo. Assinei duas folhas e o mesmo homem disse-me que adiantariam dez milhões. Porque não?!
Telefonei ao escritório e disse que estava doente, talvez ficasse em casa a recuperar durante uns dias. Desejaram-me as melhoras e eu ri-me, alto e em bom som, quando desliguei o aparelho portátil. Finalmente festejei. Comprei coisas, muitas coisas. Coisas para mim, para os que me são próximos e para os que já nem por isso, mas comprei na mesma, podia ser excêntrica. Comprei quatro casas (sonho continuamente protelado), contratei arquitectos e uma empresa para as recuperar segundo as minhas instruções. Comprei quatro carros, um para cada membro da família mais chegado (incluindo o meu cunhado). Organizei uma festa de celebração. Na festa conheci o homem da minha vida, dos meus sonhos. Casei-me (coisa que jurei nunca mais voltar a fazer) e tive dois filhos lindos. A vida corria bem.
Depois uma noite estou a dançar com o meu marido e, uma mudança brusca e sem sentido de música transporta-me de Frank Sinatra (I've got You Under My Skin), para climas mais tropicais, onde Los Mescaleros tocavam Mondo Bongo ao vivo e a fisionomia do meu parceiro, como que por efeito especial duma classe de letra de fim de abecedário, muda e eu sou substituída por uma Angelina Jolie, que dança vestida de branco. Eu afasto-me, observo-a a dançar com um embriagado Brad Pitt, depois espreguiço-me e sinto-me quente. Abro um olho. Uma luz azulada, pisca do meu lado direito e reconheço o toque.
 
Levanto-me, desligo o alarme do telemóvel. São quase oito horas. Deixei-me dormir.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

- Tudo é uma decepção. - Não! Tudo é uma ilusão, mas enquanto materializares a ilusão, ela nunca te decepcionará. - Isso faz todo o sentido. Nota: Apenas fazia sentido àquela hora, agora, não entendo.
É quase sempre insuportável, quando aquele dia do mês surge. Não só pelo mal estar, dores e acessórios pouco estéticos, mas sobretudo, porque foi mais um ciclo que se desperdiçou, mais uma oportunidade que se esgotou e o meu sonho de ser mãe...cada vez mais longe.
(Oh, quantas promessas por cumprir?! Quanto tempo perdido!) Ainda por cima chove. Não faz mal, algo que verte as lágrimas que já não contenho. Não me telefonem. Não me falem. Quero silêncio, quero o conforto dos meus lençóis, o seu toque suave na minha pele. Na ausência de outro tipo de toque, este terá que servir. Lá fora continuava a chover.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

...eu não gosto do novo acordo ortográfico. Já o havia dito e volto a repetir.
Agora descobri que Egipto vai perder o "p" e eu, que sempre o pronunciei, não só terei de deixar de o escrever, como terei de deixar de o pronunciar, alterando a sonoridade da palavra.
Ainda bem que o novo acordo é só para simplificar a aprendizagem... O que seria se não fosse?!
E pronto! Lá andavam eles ontem, com as suas fardas assinadas pela Fátima Lopes, a passar multas e a rebocar os carros estacionados em 2ª fila, sobre os passeios e sem talão da EMEL válido. Acho bem. Não os talões da EMEL, que isso de pagar espaço público a uma empresa privada sempre me fez confusão, mas o não cumprimento do código da estrada deve ser multado.
Pena que sejam apenas acções pontuais, perdidas no tempo e que depressa caem no esquecimento...
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