domingo, 29 de novembro de 2009

1948756 Ele tira a camisa. O seu corpo liso e brilhante, quase sem pelos, agrada-lhe. Ele gostava de estar assim, de tronco nu. Era a forma mais confortável para ele. Observa os mapas do outro lado da tenda. Era como se os territórios tivessem sido delineados: a parte esquerda era dela e a direita, dele. Ela pousa a caneca de chá. Mal lhe havia tocado, mas já se sentia melhor. Levantou-se devagar. Aliás, todos os seus gestos eram sempre suaves, femininos, lentos, naturais, o que o surpreendia ainda mais, quando ela lutava com ele. A força que ela tinha e a rapidez dos golpes, eram resultado de muitos anos de treino. Ele não entendia, como tal poderia ser possível. Quando ela chegou ao meio da tenda, ele falou.

- Se eu fosse a ti, não dava nem mais um passo. Não te aproximes de mim. Hoje tenho menos paciência que ontem e estou prestes a explodir.

Ela deteve-se por uns instantes. Ela não tinha certeza porque é que ia ter com ele. Algo lhe dizia que devia reconforta-lo, mas não sabia porquê, não entendia porquê. Ela pensou um pouco, ponderou as suas opções e decidiu por fim avançar. Ele sentiu o seu coração saltar, quando ela passou a linha de separação. A sua respiração ficou mais rápida, a cada passo que ela dava, trazendo consigo, aquele contínuo cheiro a rosas. Ela deteve-se a menos de meio metro dele. Ele não lhe ligou. Ela tentou ler as fotografias por satélite e com alguma dificuldade, reconheceu a costa marítima de Marrocos. Fosse o que fosse, o seu destino era o Norte de África.

- Qual é a vossa missão? – pergunta a meia voz.

Ele vira-se. Ele não pensava na missão. Ele não pensava em nada que não fosse ela. Ela era a sua missão naquele momento e o desejo ardente, da noite anterior, tinha voltado. Ele beija-a, deixando-a praticamente sem ar. Ela sente-se desfalecer. Ele coloca a sua mão direita à volta do seu fino pescoço e apercebe-se como seria fácil tirar-lhe a vida naquele momento. Ele não o quer, mas pensa nisso, em como ele era pouco mais que uma máquina feita para matar. Aperta-o um pouco, enquanto a continua a beijar. Aquilo excita-o. Com a mão livre, arrebenta com os botões da camisa dela e deixa-a descair até aos seus pulsos. Isso prende-lhe mais os movimentos do que ela gostaria, mas ela mal consegue respirar, quanto mais lutar.

Ele afasta-se um pouco. Ele quer vê-la à luz do dia. Ela recupera o fôlego. Ele não entende, porque é que aquela violência com ela lhe dá tanto prazer. Nunca tal lhe havia acontecido. No entanto, ele espera que ela colabore e sente-se bem, quando ela não se mexe e continua parada, imóvel, à frente dele, mesmo agora, quando ele nem sequer a segura. Volta a beijá-la e ela corresponde. Ela liberta-se da camisa que lhe prende os braços e coloca as pequenas mãos à volta do pescoço, daquele estranho. Ele sente-se nas nuvens. Pega-a ao colo e ela abraça-o com as suas compridas e musculadas pernas. Fazem longas trocas de olhares, no intervalo dos intermináveis beijos. Eles não se cansam dos seus olhos. Têm tanto a dizer, tanto a descobrir, tanto a explorar.

Ele não esperava tanto. Ela queria mais, mas começava a entrar num jogo, do qual dificilmente poderia sair a meio e não tinha a certeza absoluta se o queria levar até ao fim. Ela apenas sabia, que gostava daqueles preliminares, daquele namoro, daquela excitação. Ela sabia ainda, que ele quereria ter tudo e que ela, tudo não queria dar. Mesmo assim, decidiu levar as coisas até ao limite do que lhe seria possível aceitar. Se ela o fizesse gostar de si, talvez as coisas pudessem vir a ser diferentes. Talvez assim, ele a viesse a proteger do destino, que ela pensa, que lhe está atribuído. Talvez assim, ela não tenha que morrer. Talvez!

Aquele jogo, que há muito havia passado de mera sedução, prolongou-se por longos minutos. Ele deitou-a na sua cama e despiu-a por completo. Ela estranhamente permitiu. Pena que não seria uma permissão total e quando ele, certo de que ela seria dele naquele momento, se preparava para a possuir, ela rouba-lhe a faca de mato e afasta-se para o meio da tenda. Desta vez, ele não entende mesmo, o que se passou. Será que ele a magoara de alguma forma? Ele teria precipitado o momento? O certo é que começava a ficar farto daquela brincadeira, farto das provocações dela, farto das suas indecisões. Levantou-se impaciente e dirigiu-se até a ela, mantendo uma distância razoável. Ele conhecia as suas aptidões de luta corpo-a-corpo. Sabia de ante-mão, que a venceria, mas não a queria magoar, nem muito menos magoar-se a si próprio.

- Desculpe-me! Não devia ter permitido que isto fosse tão longe. – Justifica-se ela.

- Dá-me a faca. Não te quero magoar. – Pede-lhe em forma de ordem.

- Eu também não o quero magoar. – Ela realmente, não o queria magoar, mas também não queria ficar ali, ela não tinha a certeza do que queria. – Não se aproxime, ou usarei a faca.

 

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

 

Já foi, já passou, quente e aconchegante como quase todos os Verões, mas…  c’est finnit.

Pensar que podia viver num Verão permanente é algo que acalenta o meu espírito, que fomenta a minha imaginação, que me dá horas de doces delírios, onde imagino uma casa na praia, por-de-sois intermináveis, nascer de dias rápidos e fantásticos, com cores que ainda não foram baptizadas, jantares no pátio à sombra de palmeiras e coqueiros, quartos de hospedes sempre com camas ocupadas, amigos à volta a passarem férias, a irem e a virem, a gozarem comigo os prazeres do calor que um clima tropical pode oferecer. Almoços de peixe grelhado, acabado de ser entregue por um pescador que passa todos os dias às oito da manhã, num pequeno barco a motor bem à frente da minha casa, gritando:

- Tenho peixe fresco, acabado de pescar. A menina vai querer?

Compro o peixe e preparo-o antes de sair para ir trabalhar. Pego na lancha, vou até ao continente, faço o meu trabalho e volto para casa à uma da tarde. Grelho o peixe enquanto a minha visita termina de temperar a salada, almoçamos com calma.

O trabalho?! Esse passa a ser em part-time, três horas por dia que rendem mais que um dia inteiro dos que tenho hoje. Da parte da tarde depois do almoço e da sesta, nado e mergulho um pouco, aproveito o sol e escrevo, escrevo totalmente inspirada, sem preocupações. Paro para uma caipirinha e um lanche, coloca-se música ambiente, existe um ar molhado no ar, a chuva está prestes a cair, cai sempre ao fim da tarde. Recolhemos-nos no pátio, debaixo do telheiro e dançamos um pouco antes do jantar, enquanto a chuva embala os nossos movimentos.

Nunca chove durante muito tempo, mas chove sempre todos os dias. Deixa no ar um cheiro que a água liberta da terra e que nos faz ligar a ela, que nos obriga a reconhecer esse cheiro maternal, que nos obriga a sentir humildes, de nos recordar que somos filhos da terra, que dela viemos e que um dia a ela voltaremos.

Jantamos algo preparado por mim, talvez uma comida tropical com óleo de palma, coco e gengibre, jogamos às cartas, conversamos, bebemos um pouco, dançamos até tarde. Fazemos amor até o sol nascer.

Sim, são estes os pensamentos que me acalentam as noites frias do Inverno. É com eles que eu alimento a minha imaginação e coloco no meu espírito aquela acendalha que alimenta a esperança, a esperança de que um dia, talvez seja possível.

Um dia!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Por vezes tenho dificuldade em entender a razão das coisas. Ontem, aconteceu, mais uma vez.

Ouvi uma música que já devo ter ouvido centenas de vezes, mas ontem, sem haver nenhuma razão aparente, prestei mais atenção à letra e ela bateu tão fundo na minha alma, tão fundo, que simplesmente as lágrimas correram pelo meu rosto, em pleno comboio em direcção a casa, depois de  mais um dia de trabalho.

Depois de ter digitalizado a letra, acabei sem perceber o porquê, sem saber a razão de tal fenómeno. Não existe nada no presente que pudesse ter feito com que eu sentisse algum tipo de nostalgia e sinceramente o passado já esta tão longe, morto e enterrado, que não vejo ligação. Terei eu tido uma crise empática, por algo que possa vir a acontecer?!

Bem, sem ter chegado a uma conclusão deixo-vos aqui a letra da dita música:

Porque foste na vida,

A última esperança.

Encontrar-te me fez…

Criança!

Porque já eras meu,

Sem eu saber sequer.

Porque és o meu homem

E eu, tua mulher!

Porque tu me chegaste,

Sem me dizer que vinhas,

E as tuas mãos foram minhas,

Com calma!

Porque foste em minha alma,

Como um amanhecer.

Porque foste o que tinha,

De ser!

Porque foste na minha alma,

Como um amanhecer.

Porque foste o que tinha,

De ser!

“O que tinha de ser!”, Vinicius de Morais.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

… Que é que podia ser mais?! Para o Natal, é claro!

O frio já se faz sentir; os casacos e cachecóis, são uma realidade incontornável; os miúdos de manhã, quando vão para a escola já parecem uns esquimós; já se testam as luzes; já se ensaiam decorações; o cheiro das castanhas a assar nos carros da rua, já fica perdido na humidade fria do ar e alguns lares já se preparam para a grande festa da família.

Tenho que admitir que este ano foi complicado entrar no espírito, mas desde Sábado que a engrenagem foi iniciada e já estou em Modo Natal. Já comecei a preparar e organizar os jantares com os amigos e a marcar encontros para a escolha do amigo secreto.

Ah! Tu que sabes quem és, obrigada por cederes a casa para o jantar, assim juntamos toda a gente num dia só e poupamos três jantares de engorda em restaurantes, para podermos estar com todos!

No dia 1, o tradicional passeio a Sintra, já está combinado. Quero ver quem vai faltar este ano! No dia 8, montar as decorações, cujo tema é, este ano: Neve na floresta encantada. (aguardem pelas fotos). E depois, só falta mesmo acabar de comprar o que ainda não comprei e fazer os embrulhos

Sim eu sou daquelas loucas que desmancha os embrulhos das lojas e que gasta, por vezes, mais na embalagem do que no presente. A ideia é dar uma lembrança, demonstrar o quanto gosto e me preocupo com as pessoas e não, ficar sem dinheiro na conta.

30 dias para o Natal, a contagem decrescente começou!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Não sei se vocês já se deram ao trabalho de reparar, que sempre que problemas e casos que envolvem o nosso Primeiro Ministro, chegam à comunicação social, existe também e em tempo real, um hastear de grandes bandeiras que têm de ser defendidas na Assembleia da Republica?

Há uns tempos atrás, durante o caso Freeport, foi a bandeira do Aborto, uma prioridade absoluta do governo: fazer, ou não referendo; aprovar ou não a lei. Agora que a corrupção e o desemprego estão à solta, aparece a bandeira do Casamento Gay, assunto prioritário para ser resolvido em início de mandato e à frente de tantos outros assuntos importantes e prioritários para a Nação.

Se virmos a coisa por outro prisma, sempre podemos supor que o Casamento Gay é prioritário, pois permitirá criar um novo nicho de oportunidades de emprego e desenvolvimento do empreendorismo no mercado: Afinal de contas, alguém terá que desenvolver e criar, usos e costumes para a realização das cerimónias. Creio que o Presidente da República, ficaria muito feliz, com tal desenvolvimento!

Até quando os eleitores portugueses, vão continuar a cair em tamanha manobra barata de marketing político? Até quando?!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

 

Hoje fui ao centro de saúde da minha área e fiquei gravemente preocupada, não pelo tempo interminável para ser atendida, não pela falta de profissionalismo dos assistentes administrativos, nem pela total desorganização de horários, por nada disso.

Fiquei preocupada porque em todos os lugares, supermercados e centros comerciais, existem dispensadores de desinfectante para as mãos, de forma a que as pessoas possam diminuir os riscos de propagação da gripe A, tal como dizem os cartazes espalhados por todos os lados, incluindo nos painéis de aviso do dito Centro.

No entanto, fui até ao quarto de banho e nem um sabão macaco, um sabão azul e branco, um vestígio que seja, de alguma coisa para lavar as mãos, que não a água.

Em cima da secretária do segurança, que fica em frente da porta  ao lado da máquina do café, o mesmo lugar onde os promotores farmacêuticos têm por hábito abancar arraiais, está uma folha A4 que diz:

Se pensa que tem gripe A, desinfecte as mãos e coloque a máscara, antes de se dirigir aos balcões.

Obrigado,

Eu por acaso vi a dita folha e por cima dela, um frasquinho de desinfectante e uma caixa com máscaras, mas apenas porque me apeteceu um café durante as quatro horas que ali passei e tive que furar por entre aqueles espécimes todos para conseguir um.

Estamos a brincar, certo?!

domingo, 15 de novembro de 2009

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Sei que é romântico ouvir a chuva cair lá fora enquanto se está dentro de casa, a beber um copo de vinho e a ver a lareira crepitar, abraçado a quem se ama e essas coisas todas, mas a verdade?!

Estou cheia de saudades do Verão!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

 

Uma casa, um pouco mais afastada de todas as outras, no meio do campo. Uma enorme janela de parede a parede que dá para um jardim silvestre, onde uma árvore se destaca de todas as outras. Destaca-se porque é grande, mais antiga mais sábia. Ela soube aproveitar tudo aquilo que a terra lhe deu e cresceu saudável, dobrando-se ao vento para não quebrar.

Está vento, muito vento, na verdade. Dentro do aconchego da casa, sentado de lado num cadeirão, olhando para a magnífica árvore, está ele. Chegou a casa do emprego, mas não está cansado. Há anos que tenta aprender a tocar uma espécie de viola, guitarra, ou cítara, algo que ele encontrou um dia num mercado numa das suas viagens, que lhe disseram ter origem chinesa. Ele faz as cordas vibrar e espera que um dia, os sons que dela saiam façam sentido e sejam harmoniosos. Não tem pressa, é apenas um passatempo, tal como olhar para a árvore, ver como ela resiste ao vento, apenas sendo flexível e forte.

Um dia ele espera vir a ser igual àquela árvore, tão sábio quanto ela, tão honesto, forte e flexível como ela.

Por enquanto contenta-se por poder observá-la, enquanto arranca da guitarra chinesa um sons dissonantes. Quem sabe se não deveriam ser assim?!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

DSCF0769… seria não poder dizer o que penso. 

Ficar com ideias presas a matutar, a saltar à corda de saltos altos no sótão da minha cabeça, é uma tortura digna de filme de guerra, ou da Santa Inquisição.

Graças a Deus que inventaram os blogs!

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