segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Ela avança num passo lento e controlado. Dir-se-ia uma gata pronta a atacar. Mal deixa marcas dos seus pés descalços, na terra molhada. Ela aproxima-se daquele homem que não conhece. Sente nos seus pés, a humidade da terra e sente frio. Um odor particular intensifica-se, mas não o consegue distinguir. Uma nuvem pesada, forma-se a cada exalação do soldado. Ela está agora perto o suficiente dele. Engole em seco, finalmente apercebe-se que tem sede e que os seus lábios estão secos. Humedece-os, ligeiramente com a língua e diz com uma voz quase inaudível: “Aqui estou!” Até para ela lhe pareceu fraca demais, tanto que se prontificava a repetir, quando ele afirma com uma voz dura e seca:
- “A partir de agora, sempre que eu der uma ordem, tu obedeces, sem sequer pensar. Compreendes?” - Ela acena que sim, mas ele de costas espera uma resposta audível. - “Compreendes?” - Grita de novo e, desta feita, ela responde com um sonoro
- “Se eu achar que devo.” - e ao terminar de falar, fecha os olhos, aguardando uma reacção violenta ao seu desafio. Ela conhece-o bem. Pareceria a qualquer um, que ela já tinha estado perante tal situação e tal como previra, ele vira-se com a intenção de lhe bater, mas ao aperceber-se tão previsível, sorri e diz apenas: -De onde saiu essa coragem toda? – ela apenas treme, mas agora de frio. Não lhe responde. Na verdade, não saberia o que lhe responder, nem ela mesmo sabe.
Estão tão perto um do outro, que conseguem sentir o calor emanado pelo corpo de ambos e, inconscientemente, gostam os dois, dessa aproximação. A disparidade de estaturas é absurda. Ela parece-lhe mais nova agora que está de pé, perto de si. Mas é imponente no seu metro e sessenta e picos, talvez mais. Até que não é baixa para uma mulher, ou menina. Ele toca no cabelo que lhe tapa parte do rosto e afasta-o para trás. Acaricia-lhe de novo a face, o pescoço. Desta vez ela pode senti-lo. A respiração dela acelera um pouco, apesar do seu controlo. Ele apercebe-se, sente-se bem e continua a sua exploração. A sua vontade era tocar-lhe por inteiro, de uma vez só, mas contém-se, mais uma vez, contém-se.

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