terça-feira, 11 de agosto de 2009

abismo (2) Existe algo que os homens nunca compreenderam, mas que eu vou tentar explicar: as mulheres mudam o seu comportamento, conforme a forma como estão vestidas. Ela ontem estava nua, desprotegida, apenas podia contar com a sua pele, para a influenciar, mas hoje, ela tem uma farda vestida. É certo que é de escuteira, algo que inspira pouco ou nenhum respeito, mas de todas as formas, é uma farda e, portanto, ela age à altura do que veste. Eles são militares, movem-se e comunicam como tal e ela também sabe jogar esse jogo. Ela compreende muito bem esse orgulho que provém de se estar a cumprir uma missão, seja ela qual for. Ela também tem uma: sobreviver.

- Bem! Já que aqui estás, ao menos que te tornes útil. Vê se preparas algo comestível para almoçarmos. – ordenou-lhe, olhando-a frente a frente, olhos nos olhos. Ela sabia que não o podia enfrentar como fez na noite anterior, por isso, limitava-se a olhar o horizonte, tal como havia aprendido a fazer nas paradas. Ele era o superior hierárquico dos outros dois e ele nunca permitiria uma insubordinação vinda da parte dela, à frente dos outros. Ela tinha conhecimento disso e sabia que, aceitar isso como um facto, a salvaria de qualquer outro problema. Acatou a sua ordem, com uma submissão militar, que ainda o desconcertava.

Acabou por procurar, na cozinha improvisada, qualquer coisa para fazer para o almoço. Não pôde deixar de comparar aquela construção tão tosca, com aquelas que ela insistia em fazer nos seus acampamentos. Ela era uma líder de patrulha e era muito boa nisso. As suas construções de troncos e sisal eram elaboradas e admiradas por todos. Aquelas que eles tinham feito, não chegavam sequer aos pés, das dela. Ela não sabe porquê, mas sentiu-se orgulhosa por isso. Achou entretanto umas latas de feijão, tomate pelado e atum. Decidiu fazer uma feijoada de atum e quando já passava do meio-dia, chamou-os para almoçarem.

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