É a primeira vez dela. Ela nunca tinha dado prazer a um homem, nem mesmo desta forma tão ingénua e era a primeira vez, que ele teve que guiar uma rapariga numa situação como esta. Quando terminou, ele limpa aquela pequena mão, com lenço que tira das calças e, depois de se limpar a si mesmo, acende mais um cigarro. Ela deixa-se ficar, sem ainda perceber muito bem o que se passou. Ele está muito mais calmo agora e o seu peito, apenas se move ocasionalmente. Ele acaricia-lhe os longos cabelos com a mão esquerda e ambos mergulham num silêncio gélido, que apenas é quebrado, quando ele termina de fumar.
- Quem és tu? – pergunta angustiado. Ambos sentem que são mais do que deviam ser, mas nenhum compreende porquê. Ela não responde, apenas procura os seus lábios e beija-o. Ele sente o seu corpinho gelado, por ter estado tanto tempo, sentada naquele chão frio e molhado. Ele retribui o seu beijo e num abraço apertado, pega-a ao colo e leva-o para a outra cama. Ela é tão leve! O seu corpo é de uma insustentável leveza. Aconchega-a de novo naquele saco-cama militar. Olha-a, uma vez mais e ela volta a tocar-lhe na cara como fez, durante o seu desvario. Como foi ele capaz de a magoar daquela forma? Ela gosta do seu rosto, dos seus olhos. Ele levanta-se, tem que se levantar. Ele não pode sentir o que sente. Se o fizer, tudo estará perdido. Ele afasta-se em direcção ao exterior da tenda, mas ela fala. A suavidade da sua voz faz com que a sua pele se arrepie.
- Fique! Por favor, fique. – ele detém-se, mas não consegue perceber o que se passa naquela pequena cabeça. – Tenho medo. – ela não queria ficar sozinha. Tinha-se recordado do que se passara com os colegas dele e não queria que ele a deixasse só. Ela levanta o saco cama, em claro gesto de convite e aguarda pacientemente o calor daquele corpo, estranhamente familiar. Ele deita-se e ela abraça-o. Sabe que enquanto estiver com ele, durante aquela noite, estará a salvo. Adormecem.
O dia amanhece. Os dois companheiros de campanha daquele homem exausto, já se levantaram, cumpriram as suas funções diárias e começam a estranhar a demora do seu superior. O mais velho, decide entrar na tenda e acordá-lo.
- Acorda François. – ele grunhe – Acorda! – ele acaba por abrir os olhos. Ela acorda com ele. Ele senta-se, tentando acordar totalmente, mas a boa disposição do seu companheiro irrita-o. – Não me diga que ela lhe deu assim tanto trabalho. – olha-a desconfiado – É tão miudinha! – ri-se. Mas ele não pretende que aquilo continue. Algo aconteceu na noite anterior, que o fez mudar de ideias, quanto a direcção que aquela missão deve tomar.
- A partir de agora, eu não quero ouvir mais comentários desse tipo. – o outro homem, bem mais velho que ele, espanta-se, mas sabe qual é o seu lugar e responde formalmente ao seu superior.
- Assim seja, chefe. – ela recorda-se dele da noite anterior, recorda-se de como ele e outro que ela ouvia fora da tenda, a ataram a uma árvore, a despiram e quase a violaram debaixo da chuva da noite anterior. Lembra-se de que ele lhe batera tanto que acabou por perder os sentidos. Ela retrai-se e puxa o saco-cama para se tapar. Ele olha para o ar assustado dela e cai em si. Aproxima-se do subordinado.
- Devolve-lhe as roupas e dá-lhe o que comer. – diz enquanto passa o seu braço por cima do ombro daquele homem, que o tratava com uma intimidade paternal. – Vocês fizeram café? – pergunta-lhe, levando-o para fora da tenda. Assim ela teria tempo para se recompor. Ele pareceu-lhe ainda mais belo, agora que o sol iluminava a tenda e o verde dos seus olhos parecia ainda mais vivo. Ela parecia-lhe menos pequena, mas mais assustada. Ele queria protegê-la, mas ainda não tinha descoberto como.
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