segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sou sincera: nunca percebi o ditado popular “Morrer de pé como uma árvore”. Nunca entendi simplesmente, por que não acho que ficar parado, sem nada fazer, sem recorrer a todos os recursos, seja digno. Acho que se deve morrer a lutar e as árvores não o podem fazer. Alguém o tem que fazer por elas. Assim o ditado nada me diz e continuo a achá-lo absurdo.

A verticalidade deve-se a uma constante moral e não ao facto de nos mantermos de pé e estáticos. Quando morrer que seja a lutar por algo, que seja a correr, a rastejar no chão, a fazer amor com quem amo, que seja a lutar contra uma doença numa cama de hospital, que seja a combater um fogo, a salvar alguém que se afoga, com um tiro a lutar por algo que acredito, que seja acorrentada a uma árvore, mas que seja a morrer de forma activa.

Recuso-me a morrer como uma árvore.

 

PS.: Obrigada Entremares, por me teres inspirado (aqui).

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12 Ideia(s):

Saltos Altos Vermelhos disse...

Para já nem pensar em morrer!!! E em segundo, simm!!! é preciso lutar até ao fim!!!

Iris Restolho disse...

Saltos,

Realmente morrer não está nos meus planos imediatos. Tenho fé que irão inventar a imortalidade, ainda durante a minha vida.


Beijos,

Anónimo disse...

Penso que o espírito do ditado não é bem morrer parado. Será mesmo morrer na luta por estar de pé, juntando todas as forças para que, mesmo ferido, se morra-se combatendo.
Efectivamente as árvores morrem paradas, mas o seu porte altivo que mesmo contra intempéries foi sobrevivendo, torna-se exemplo.

AC disse...

Amiga, acho que estás redondamente enganada!

"Morrer de pé como uma árvore", pelo menos para mim, é exactamente o oposto, significa que não nos "encolhemos", que se luta até ao fim por aquilo em que se acredita, nem que, em ultima instancia, seja preciso morrer para isso.

E já agora, para lutar não é necessário andar aos saltinhos, as árvores também lutam, quanto mais não seja para conseguirem sobreviver (e olha que às vezes é bem dificil)...

beijocas
AC

Iris Restolho disse...

Sussurros,

E sei o que o ditado quer dizer, apenas não acho que seja uma boa metáfora, pois se por um lado as árvores morrem de pé sem ir abaixo, sem se dobrarem, não têm como lutar contra o homem, e por vezes sem contra alguns elementos da natureza, como o fogo, o vento.

Nesse caso antes morrer como um bambo, pois antes de morrer pelos menos dobrou ao vento e resistiu um pouco mais.

Beijo,

Iris Restolho disse...

Ana, bem vinda menina!

Finalmente, um comentário! Devo ficar contente e soltar foguetes, certo?! Já agora não te esqueças do texto que te pedi há 2 meses para colocar aqui!

Quanto ao comentários em si! Eu sei qual é o significado que dão ao ditado, mas eu não acho que as árvores lutem até ao fim. Elas apenas vivem e muitas vezes nem sequer contra o vento lutam, pois como não vergam, são arrancadas.

São apenas diferentes pontos de vista. Mas ainda bem que aqui o coloquei, pois finalmente a menina deu ar da sua graça. Bem Vinda!

Beijo enorme!

AC disse...

Eu sei que sou suspeita mas, continuo a não concordar.

Pensa por exemplo nos sobreiros, os grandes resistentes aos fogos, embora contra o homem não há quem tenha hipotese.

bjs

AC disse...

É sempre um prazer participar, o tempo e a inspiração é que nem sempre ajudam.

beijos

Devir disse...

Excelente debate!!!

"Ao homem tudo pode"
Eis um ditado de ditador, que não se preocupa se certo ou errado.

"Nada pode ao homem"
Eis um outro ditado, de revolucionário, que se preocupa somente com o certo.

Percebem, reina entre os ditados, ditadores e revolucionários, ambos grupos não estão preocupados em debater o sentido, impõem-se e nunca se vão; azar ou sorte de quem faz as escolhas.

"O homem que pode tudo, nada pode"
Eis outro ditado muito interessante, muito diferente dos anteriores, indiferente aos "podres poderes" de Caetano Veloso, que tem sabor de caetano e, com rasoável delicadeza, convida-nos, aos que amam a vida, sempre sempre aos debates.

"Ao homem que nada pode, tudo pode"
Por fim mais este ditado que prefiro não dizer palavras.

Um grande beijo, Iris

Iris Restolho disse...

Devir,

Excelente ponto de vista, nem me tinha apercebido que do nada havia surgido um debate. Bem visto!

"Pela dialéctica se encontra a verdade."

Não sabendo ao certo se terá sido Sócrates ou Zenon a definir este caminho, o certo é que através deste pensamento, o homem redefiniu a sua forma de encontrar e pesquisar a verdade, a Sophia.

Apenas pela arte do diálogo, da pergunta e da resposta se consegue encontrar verdades temporárias, ou racionais, tendo sempre em conta que o significado é entendido por cada um, de forma diferente.

A percepção da verdade fica a cargo da personalidade e do estado de espírito, elemento tantas vezes negligênciado no pensamento racional.

Bem haja!

Iris Restolho disse...

Ana,

Os sobreiros! Como gosto dessas árvores!

É verdade que as árvores são os fósseis vivos do planeta, que duram muito mais que o ser humano, que são um depósito histórico da Terra, mas a ver se me consigo explicar.

Sabendo perfeitamente o que o ditado quer dizer, para mim não faz sentido, morrer de pé estático. Muitas vezes vejo filmes, peças de teatro e encontro em romances, passagens onde alguém, desistindo de lutar, se coloca de pé e enfrenta a morte. Está de pé, é uma morte digna, mas para mim, não lutou até ao fim. Por vezes, o limite de tempo pode ser prolongado, se simplesmente, em vez de ficarmos de pé estáticos e chamar a isso valentia e coragem, nos dobrarmos, deitarmos e voltarmos mais tarde.
As árvores simplesmente não o podem fazer.

Será que me expliquei agora?!

Beijo enorme.

Nuno Garrido disse...

À autora do post e comentadores: a frase não é um ditado popular, é a frase chave quase do final da peça "As árvores morrem de pé" que agora volta a estar em cena em Lisboa passados 50 anos. Durante esse tempo é que a frase se foi introduzindo no imaginário mas, naturalmente, quem não tenha visto a peça não pode perceber o sentido dela. Uma avó de 90 anos acaba de descobrir que o neto que ela adorava era um canalha. Mas, morta por dentro, vai contribuir (lutadora, portanto) para a felicidade de um casal que, a pedido do avô, tinha colaborado na mentira daquele, fazendo-se passar pelo neto bom idealizado pelo avô para a sua mulher. É isto!

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