terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Decidi que ia pedir ao Pai Natal alguém com quem podesse partilhar a minha vida, o meu corpo, a minha alma, a minha felicidade.

Li a carta cheia de orgulho da bonita caligrafia e do papel bem escolhido e num impulso, rasguei-a. Comecei a escrever outra, onde pedia, simplesmente, que fizessse com que algum homem se sentisse atraído por mim. Esta teve o mesmo destino que a anterior, pois pedia algo que já tenho. Pensei melhor e recomecei a escrever a terceira carta. O mesmo papel, a mesma caneta, a mesma caligrafia cuidada.

«Querido Pai Natal;

Na minha árvore, este ano, eu queria algo especial: um sentimento muito particular que uma vez já tive e que, por alguma razão alheia ao meu consciente, perdi. Este Natal, querido S. Nicolau, desejo ter de volta a "Capacidade de me Apaixonar".

Certa de que é um pedido complicado, compreenderei a demora da entrega.

Despeço-me com a mais elevada consideração e devoção.

Votos de um feliz Natal junto dos seus e que tenha neste e em todos os anos muito trabalho.

Com um beijo, desta que o respeitará para sempre. - Ass. Iris Barroso»

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

 
 
A minha irmã estava de folga, pelo que senti a falta da voz da minha sobrinha às seis da manhã, mas às sete, o telemóvel deu o alarme e ao som de Mondobongo de Joe Strummer e os Mescaleros, o meu cérebro, lentamente, acordou. Mas foi mesmo muito, muito, muito, lentamente. Começou por dar ordem aos olhos para abrirem, mas estes em contacto com a pele, decidiram ficar quietos. A pele sentia-se quente e protegida e pediu aos olhos, mais alguns minutos de tranquilidade.
 
O cérebro pediu então aos músculos que se mexessem, que se espreguiçassem, que induzissem alguma energia ao resto do corpo em plena greve, mas estes mal estremeceram, fizeram a pele sentir-se refrescada, numa nova posição e os nervos enviaram nova mensagem ao cérebro, pedindo mais alguns minutos de tranquilidade.
 
O cérebro pediu então, num apelo quase desesperado a todo o corpo para que acordasse, que já eram horas, mas os ouvidos ignoraram o novo alarme, os músculos recusaram a mover-se, os olhos mantiveram-se quietos e a pele, esse órgão tão importante e tantas vezes ignorado, gritou:
 
- Deixa-te ficar mais um bocado! - Assim o cérebro fez e, numa retirada estratégica, sonhou acordado por mais um pouco. À terceira repetição do alarme, encheu-se de energia e berrou:
 
- Acorda, corpo gordo e preguiçoso, o descanso acabou! - os olhos irritados mantiveram-se fechados e a pele aquecida pediu aos músculos para não se mexerem, mas estes, como soldados bem treinados e ofendidos pelo insulto gritado pelo cérebro, moveram o corpo num impulso, contraindo os abdominais, ao mesmo tempo que os bícepes e os lombares, deixando o corpo na posição de um gato a espreguiçar-se ao sol, com os lençóis a escorregarem para todo o lado.
 
A pele sentiu assim o frio da manhã e num arrepio mal humorado, disse então aos olhos:
 
- Abram lá! Já chega de mandriar!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Ela tem a sua primeira oportunidade de o observar, sem ser vista. Levanta os olhos e vê um homem, aparentemente um militar. A sua intuição assim o diz, a roupa que ele veste e a camisa que a aquece, também. O seu corpo é extremamente musculado, mas de certa forma, é-lhe familiar. Aquela configuração não a assusta, ela já a conhece bem. O cabelo dele é negro, quase tão escuro quanto o seu e curto, como convém a um bom soldado. É alto. Bem mais alto que ela. Talvez um metro e oitenta e cinco, quem sabe mais, mas ela não tem a certeza. Veste umas calças pretas, cheias de bolsos, fechos e presilhas. A camisa não mostra qualquer insígnia, talvez estivesse numa missão secreta, mas ela podia quase afirmar, que ele era um oficial. Deve rondar os trinta anos, mas não consegue ter a certeza. Existe pouca luz, para que se possam ver bem as feições. À cintura, um cinturão, uma navalha e uma arma automática, talvez uma Beretta de sete milímetros, num coldre. Instintivamente olha para a perna direita, junto à bota e repara que algo falta, mas não sabe o quê, nem sabe porque é que procurou.
- Vem cá. – ordena num tom seco e ríspido, que, mais uma vez, não lhe é estranho – Vem cá! – secunda, desta vez com uma voz mais grave que a assusta, fazendo-a encolher-se. No ar existe um cheiro a eucalipto, a terra molhada, a fumo e a musgo, que a embriaga. – Vem cá, imediatamente! – grita-lhe, por fim.
Ela levanta-se num gesto único de gata selvagem, quase sem barulho. Controla a sua respiração acelerada pelo medo e ganha uma nova confiança. Respira fundo. Aperta devagar todos os botões da enorme camisa que lhe foi emprestada e arregaça as suas mangas. Uma ordem tinha-lhe sido dada, mas ela não tinha conhecimento de que teria de obedecer. Não, rapidamente, pelo menos, e por isso, tomou o seu tempo. Ele ouviu-a. Tinha sido treinado para isso, mas estava confuso. Aquele pequeno ser baralhava-o mais uma vez. Ele ia gritar-lhe novamente, mas antes que fosse necessário, ele ouve-a a dar os primeiros passos.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

 

 

Há alguns dias (mesmo muito poucos), uma adolescente de 16 anos, acusou-me, publicamente, de ser a "Rainha das Tradições" e de ter uma imaginação demasiado fértil (Está descansada que eu sei que foi com boa intenção. Ainda não foi desta que o pai Natal te tirou da lista.)

Fez-me pensar e tive uma conversa comigo mesmo, demasiado longa, confusa e socrática, para aqui a reproduzir. Pensei e repensei, escrevi e rasguei, reescrevi e voltei a rasgar, escrevi uma última vez, li e cheguei à conclusão que, no mundo em que vivemos, na vida que tenho tido (com este eterno ganhar para depois perder), talvez e apenas essa imaginação, esse agarrar de pequenas coisas, tenha sido a razão para continuar com a vida.
 
Continuo, dia após dia, mês após mês, ano após ano, porque apesar de tudo, ainda acredito, ou pelo menos (se formos literais com a palavra imaginação), penso acreditar, que a vida vale a pena viver, que o Mundo está cheio de coisas boas e que a magia e todos os seus porta-vozes, nunca permitirão que a esperança morra... pelo menos a minha!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

 
 
Mesmo aquelas que vão sendo criadas ao longo do tempo num grupo restrito de pessoas, a quem alguns chamam família.
São lindas porque nos ajudam a recordar o quão importante é o trabalho em grupo, o quão forte pode ser uma família unida, o quão pouco importante é tudo aquilo, que por ser negativo e externo ao nosso grupo, não nos pode afectar e principalmente porque nos obriga a encontrar ainda mais vezes e a reforçar os laços que nos unem.
 
Mas para além de lindas são divertidas e este fim-de-semana voltou a provar isso mesmo. Graúdos e miúdos divertiram-se como reis, num dos cenários mais lindos do Mundo, mas como uma imagem vale mais que mil palavras, vejam vocês mesmos, no novo slide show, que coloquei na barra lateral, espero que gostem!
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