Já foi, já passou, quente e aconchegante como quase todos os Verões, mas… c’est finnit.
Pensar que podia viver num Verão permanente é algo que acalenta o meu espírito, que fomenta a minha imaginação, que me dá horas de doces delírios, onde imagino uma casa na praia, por-de-sois intermináveis, nascer de dias rápidos e fantásticos, com cores que ainda não foram baptizadas, jantares no pátio à sombra de palmeiras e coqueiros, quartos de hospedes sempre com camas ocupadas, amigos à volta a passarem férias, a irem e a virem, a gozarem comigo os prazeres do calor que um clima tropical pode oferecer. Almoços de peixe grelhado, acabado de ser entregue por um pescador que passa todos os dias às oito da manhã, num pequeno barco a motor bem à frente da minha casa, gritando:
- Tenho peixe fresco, acabado de pescar. A menina vai querer?
Compro o peixe e preparo-o antes de sair para ir trabalhar. Pego na lancha, vou até ao continente, faço o meu trabalho e volto para casa à uma da tarde. Grelho o peixe enquanto a minha visita termina de temperar a salada, almoçamos com calma.
O trabalho?! Esse passa a ser em part-time, três horas por dia que rendem mais que um dia inteiro dos que tenho hoje. Da parte da tarde depois do almoço e da sesta, nado e mergulho um pouco, aproveito o sol e escrevo, escrevo totalmente inspirada, sem preocupações. Paro para uma caipirinha e um lanche, coloca-se música ambiente, existe um ar molhado no ar, a chuva está prestes a cair, cai sempre ao fim da tarde. Recolhemos-nos no pátio, debaixo do telheiro e dançamos um pouco antes do jantar, enquanto a chuva embala os nossos movimentos.
Nunca chove durante muito tempo, mas chove sempre todos os dias. Deixa no ar um cheiro que a água liberta da terra e que nos faz ligar a ela, que nos obriga a reconhecer esse cheiro maternal, que nos obriga a sentir humildes, de nos recordar que somos filhos da terra, que dela viemos e que um dia a ela voltaremos.
Jantamos algo preparado por mim, talvez uma comida tropical com óleo de palma, coco e gengibre, jogamos às cartas, conversamos, bebemos um pouco, dançamos até tarde. Fazemos amor até o sol nascer.
Sim, são estes os pensamentos que me acalentam as noites frias do Inverno. É com eles que eu alimento a minha imaginação e coloco no meu espírito aquela acendalha que alimenta a esperança, a esperança de que um dia, talvez seja possível.
Um dia!
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