Quando ouvi na radio, que tinha havido problemas num Bairro, chamado Quinta da Fonte, pensei irónica para comigo; "As rosas devem ter atirados os seus espinhos contra as gipsofilas, por terem feito muito barulho depois da meia noite, não permitindo à Fonte, por falta de décibeis à altura, contribuir para o seu sono reparador, com o seu suave pingar!"
Mal eu adivinhava os verdadeiros problemas que estavam por trás de um nome tão belo como Quinta da Fonte.
Mal eu adivinhava os verdadeiros problemas que estavam por trás de um nome tão belo como Quinta da Fonte.
Mas disto já todos falam, ninguém se cala. Todos dizem que é uma vergonha, que aquilo não pode acontecer, que é tapar o sol com a peneira. E é! É sim! Mas o que me choca não é isso. O que me choca são as palavras utilizadas e o que dizem na televisão.
Não preciso de ir muito longe para descobrir no mesmo parágrafo as palavras: Despejados; Gangs, Etnias, Pretos, Negros, Ciganos, entre outros adjectivos, que nem sequer me atrevo a escrever. Mas quando vem de uma das partes queixantes, então deixa-me com urticária.
O racismo existe, é latente, camuflado, mas existe. Eu sei que existe! Mas fico estupefacta, quando o racismo é mostrado com tanta clareza e crueldade. Não basta ver pessoas serem "Despejadas" num bairro social (por mais bucólico que seja o seu nome), apenas porque "dava jeito", a Expo98 estava à vista e precisavam de a concluir. Não basta ver as suas condições, pouco ou nada melhorarem. Também temos que ver como eles não fazem o mínimo esforço para o fazer. Sei que é uma questão de etnia, educação, tradição. Sei que os ciganos são povo racista, só se casam entre si, todos os outros são escumalha, mas os tempos mudam. Estão a ser dadas novas oportunidades, estão a oferecer-lhes de mão beijada uma nova vida, que pode, tão bem como qualquer uma das nossas, adaptar-se às novas circunstâncias.
A maioria destas pessoas, recebeu do Estado muito mais do que a maioria de nós já recebeu. Foi-lhes dado casa, um bairro, uma comunidade, subsídios e sei lá mais o quê! (Eu estive algum tempo desempregada e nem sequer o subsídio de desemprego tive direito, porque tinha sido uma rescisão de comum acordo.) Mas mesmo assim, ainda acham que devem revoltar-se, como povo, como comunidade, apenas e porque, não gostam dos novos vizinhos.
Eu gostaria muito de ver o que me aconteceria, se por um mero acaso, eu decidisse dizer que não gosto do meu vizinho porque ele é Árabe, Judeu, Africano, ou Latino? Provavelmente sofreria as consequências de tal acto racista. Mas não no caso destes senhores. Hostilizaram enquanto foi possível e agora que os outros estão tão organizados como comunidade (no pior sentido, mas ainda assim uma organização), sentem-se ameaçados? Bem feito! Bem feito para vocês de etnia cigana e bem feito para todos os que acham que só devem viver dentro do que conhecem, que rejeitam o que os rodeiam, que rejeitam o mundo e se acham o centro do mundo.
Um povo nómada, nunca na vida, deveria ser racista, pois geralmente são os primeiros a sofrer as consequências desse mal. Infelizmente quer-me parecer que as lições de História ficam esquecidas no exacto momento em que recebem as chaves de uma nova casa, para a qual nunca fizeram nada para merecer.
Sinto muita pena de todos os que são inocentes, de todos os que apenas queriam poder brincar livremente na rua, com o último brinquedo que alguém lhes havia dado, de o mostrar ao seu vizinho do lado, com os enormes olhos brilhantes de alegria e não de lágrimas e convidá-lo, com uma voz ainda aguda, porque é inocente e todas as vozes inocentes têm que ser obrigatoriamente agudas:
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