Ele tira a camisa. O seu corpo liso e brilhante, quase sem pelos, agrada-lhe. Ele gostava de estar assim, de tronco nu. Era a forma mais confortável para ele. Observa os mapas do outro lado da tenda. Era como se os territórios tivessem sido delineados: a parte esquerda era dela e a direita, dele. Ela pousa a caneca de chá. Mal lhe havia tocado, mas já se sentia melhor. Levantou-se devagar. Aliás, todos os seus gestos eram sempre suaves, femininos, lentos, naturais, o que o surpreendia ainda mais, quando ela lutava com ele. A força que ela tinha e a rapidez dos golpes, eram resultado de muitos anos de treino. Ele não entendia, como tal poderia ser possível. Quando ela chegou ao meio da tenda, ele falou.
- Se eu fosse a ti, não dava nem mais um passo. Não te aproximes de mim. Hoje tenho menos paciência que ontem e estou prestes a explodir.
Ela deteve-se por uns instantes. Ela não tinha certeza porque é que ia ter com ele. Algo lhe dizia que devia reconforta-lo, mas não sabia porquê, não entendia porquê. Ela pensou um pouco, ponderou as suas opções e decidiu por fim avançar. Ele sentiu o seu coração saltar, quando ela passou a linha de separação. A sua respiração ficou mais rápida, a cada passo que ela dava, trazendo consigo, aquele contínuo cheiro a rosas. Ela deteve-se a menos de meio metro dele. Ele não lhe ligou. Ela tentou ler as fotografias por satélite e com alguma dificuldade, reconheceu a costa marítima de Marrocos. Fosse o que fosse, o seu destino era o Norte de África.
- Qual é a vossa missão? – pergunta a meia voz.
Ele vira-se. Ele não pensava na missão. Ele não pensava em nada que não fosse ela. Ela era a sua missão naquele momento e o desejo ardente, da noite anterior, tinha voltado. Ele beija-a, deixando-a praticamente sem ar. Ela sente-se desfalecer. Ele coloca a sua mão direita à volta do seu fino pescoço e apercebe-se como seria fácil tirar-lhe a vida naquele momento. Ele não o quer, mas pensa nisso, em como ele era pouco mais que uma máquina feita para matar. Aperta-o um pouco, enquanto a continua a beijar. Aquilo excita-o. Com a mão livre, arrebenta com os botões da camisa dela e deixa-a descair até aos seus pulsos. Isso prende-lhe mais os movimentos do que ela gostaria, mas ela mal consegue respirar, quanto mais lutar.
Ele afasta-se um pouco. Ele quer vê-la à luz do dia. Ela recupera o fôlego. Ele não entende, porque é que aquela violência com ela lhe dá tanto prazer. Nunca tal lhe havia acontecido. No entanto, ele espera que ela colabore e sente-se bem, quando ela não se mexe e continua parada, imóvel, à frente dele, mesmo agora, quando ele nem sequer a segura. Volta a beijá-la e ela corresponde. Ela liberta-se da camisa que lhe prende os braços e coloca as pequenas mãos à volta do pescoço, daquele estranho. Ele sente-se nas nuvens. Pega-a ao colo e ela abraça-o com as suas compridas e musculadas pernas. Fazem longas trocas de olhares, no intervalo dos intermináveis beijos. Eles não se cansam dos seus olhos. Têm tanto a dizer, tanto a descobrir, tanto a explorar.
Ele não esperava tanto. Ela queria mais, mas começava a entrar num jogo, do qual dificilmente poderia sair a meio e não tinha a certeza absoluta se o queria levar até ao fim. Ela apenas sabia, que gostava daqueles preliminares, daquele namoro, daquela excitação. Ela sabia ainda, que ele quereria ter tudo e que ela, tudo não queria dar. Mesmo assim, decidiu levar as coisas até ao limite do que lhe seria possível aceitar. Se ela o fizesse gostar de si, talvez as coisas pudessem vir a ser diferentes. Talvez assim, ele a viesse a proteger do destino, que ela pensa, que lhe está atribuído. Talvez assim, ela não tenha que morrer. Talvez!
Aquele jogo, que há muito havia passado de mera sedução, prolongou-se por longos minutos. Ele deitou-a na sua cama e despiu-a por completo. Ela estranhamente permitiu. Pena que não seria uma permissão total e quando ele, certo de que ela seria dele naquele momento, se preparava para a possuir, ela rouba-lhe a faca de mato e afasta-se para o meio da tenda. Desta vez, ele não entende mesmo, o que se passou. Será que ele a magoara de alguma forma? Ele teria precipitado o momento? O certo é que começava a ficar farto daquela brincadeira, farto das provocações dela, farto das suas indecisões. Levantou-se impaciente e dirigiu-se até a ela, mantendo uma distância razoável. Ele conhecia as suas aptidões de luta corpo-a-corpo. Sabia de ante-mão, que a venceria, mas não a queria magoar, nem muito menos magoar-se a si próprio.
- Desculpe-me! Não devia ter permitido que isto fosse tão longe. – Justifica-se ela.
- Dá-me a faca. Não te quero magoar. – Pede-lhe em forma de ordem.
- Eu também não o quero magoar. – Ela realmente, não o queria magoar, mas também não queria ficar ali, ela não tinha a certeza do que queria. – Não se aproxime, ou usarei a faca.
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ok ok everybody right
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