Vocês conhecem aqueles dias em que acordamos com um nó na garganta que não sai?! Vamos trabalhar e apetece-nos chorar ainda antes de vermos o primeiro colega, mas como não o podemos fazer, engolimos diversas vezes, como se pudéssemos engolir a vontade de chorar, empurrar bem para dentro do nosso corpo e escondê-la?!
Contudo o nó continua na garganta e quando estamos quase a chegar a casa, perdemos, cada vez mais, o controlo e as lágrimas começam a cair, ainda sem ruído e uma frase, começa a repetir-se na nossa mente.
Quando abrimos a porta de casa, já as lágrimas caiem cascata. Atiramos com as coisas para o chão, saltamos para a cama e começamos então a soltar o nó preso durante todo o dia; soluçamos, choramos, soluçamos e choramos.
Lembram-se da frase?! É nesta fase que ela começa a fazer sentido. Primeiro sai como um murmuro, uma, duas vezes. Depois, explode como um grito de afirmação: “Não é justo! Não é justo! Não é justo! Não é justo!” É como uma frase de bêbado, pois nesta fase já estamos embriagados com o nosso próprio choro e com a sensação de liberdade que ele nos proporciona.
Vem então o estágio seguinte, aquele em que já nos dói os músculos de tanto gritar, soluçar e chorar. Sentimos os olhos inchados e a arderem por causa do sal. No entanto, chorar está a saber tão bem, que continuamos, esfregamos os olhos, limpamos o nariz com a manga da camisa e, em pranto, vamos até a um espelho. Estamos mais horríveis do que é habitual e isso só reenforça a necessidade de continuar a chorar. Então encostamos as costas à parede mais próxima e, lentamente, deixamos-nos escorregar até estarmos completamente sentados no chão, num pranto incontrolável.
“Não é justo! Não é justo! Não é justo! Não é justo!” Retomamos a frase. Aliás a frase pode ser qualquer coisa desde: “Fiz o meu melhor!”, “Porquê eu?!”, “Porquê?”, “Eu sou melhor!”, até à famosa frase de choro, “Não mereço isto!”
Inevitavelmente, sempre que estamos no meio de um ataque destes, o telefone teima em tocar. Podemos passar dias sem que ninguém nos ligue, mas sempre que estamos a chorar, alguém se lembra de nós. Aí, tentamos a todo o custo controlar os gemidos e as lágrimas, respiramos fundo, limpamos o nariz (e continuamos a usar a manga para esse efeito) e atendemos (sim, porque temos sempre que atender o telefone, não vá ser mais urgente que a privacidade do nosso choro), com uma voz característica de quem estava a chorar.
Nós- Estou! – fungamos.
? – Que voz é essa?! – eu imagino sempre uma voz aguda, que são as que mais me irritam, vocês façam como entenderem – Estavas a chorar?
Nós – Não! – fungamos e soluçamos – Agora a chorar! 'Tá parva!
? – É que estás com uma voz estranha!
Nós – Estou um pouco constipada, é só isso! – fungamos, soluçamos e tentamos controlar a vontade de berrar, gritar e gemer. (Também podemos dizer que estávamos a dormir, ou que estamos com uma alergia)
? – Blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá. – e nós sem ouvir nada.
Nós – Então ‘tá bem! - fungamos uma última vez – Depois digo qualquer coisa. – e desligamos o telefone.
“Não é justo! Não é justo! Não é justo! Não é justo!” - gritamos, até que adormecemos à frente da televisão, exaustos e com a alma lavada.
- Adaptado de algo que vi, li, ou ouvi, mas que não me recordo onde. -
6 Ideia(s):
é bom de vez em quando lavar a alma!!! :D
Mais do que bom, é necessário.
Depois ficamos com a alma lavada e prontas para o que o Mundo preparou de novo para nós.
Gosto de te ver por aqui. Obrigada.
Amiga,
assino por baixo!!! Sei, vi e senti bem tudo isso na minha pele!
Será que não somos mesmo almas gémeas??? LOLOL
Xoxo,
Jo
É a nossa vontade de sermos sempre fortes e de tudo aguentarmos, por vezes sentimos a necessidade de "deitar tudo para fora" - e, no fim, regressamos com uma força ainda maior.
P.S. A desculpa da constipação é sempre a menos falível. :)
Jo,
Se formos todos sinceros, creio que não existe ninguém que não tenha passado por um episódio semelhante.
Não é?!
Praga,
Também acho que essa e a principal razão: nunca mostrarmos as nossas fraquezas.
A da constipação ou a da alergia, também são as minhas favoritas.
Bem vindo, espero voltar ver o teu nome por aqui.
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