Dizer que a vida é um palco, ou uma arena, é uma metáfora tão trivial, que para nós escritores, usá-la, deixa-nos sempre um gosto amargo nos dedos. No entanto, a verdade escondida por trás dessas corriqueiras palavras, é demasiado pungente, para que possa ser ignorada. Desta forma, expressões como “Actor Principal”, Nova Personagem”, ou “Guião de Vida”, são usadas de ânimo leve, pela maioria, na explicação de coisas diárias, na descrição das nossas vidas.
Portanto todos concordamos que, a vida é um palco, nós somos os actores principais, os outros são personagens secundários, onde vivemos é o cenário e o que vivemos é o guião. Ora, não demoraria muito para que os realizadores percebessem que pouco mais seria necessário para realizar um filme com que todos se pudessem, facilmente, identificar. Apenas precisavam, tal qual um fotógrafo, escolher um ângulo, a lente e o enquadramento com mais interesse, para que a vida comum, a simples realidade, se tornasse pura arte. O realizador Fernando Meirelles (brasileiro), já o havia feito com a “Cidade de Deus”, o britânico Danny Boyle, fê-lo o ano passado com o “Slumdog Milionaire” e o mexicano Alejandro Gonzélez Iñarritu, mostrou a arbitrariedade das acções e das consequências a nível global das mesmas, no “Babel”. Cada um deles tirou a fotografia que achou mais interessante e criou uma obra de arte, com a pura e simples realidade do quotidiano. E foram fotografias dignas de todos os prémios que receberam!
Chegou, finalmente, a hora de um cineasta português descobrir aquilo que há uma década para cá, se tornou vulgar, mas o génio, a grande visão estética e a escolha acertada da metáfora por trás da linguagem comum e da imagem crua, faz com que o João Salaviza, mereça todos os prémios que quiserem atribuir ao seu filme “Arena”.
Para mim o que está por trás do rapaz em prisão domiciliária é muito mais do que a crítica à descriminação de oportunidades num estado democrático. Para mim, todos os habitantes daquele, como de qualquer outro bairro do Mundo, estão presos na Arena da vida que conhecemos e poucos são os capazes de lutar, tal qual gladiador campeão na antiga Roma, contra todas as probabilidades e obter a verdadeira liberdade; aquela que está acima de tudo o que é esperado e que apenas encontramos dentro de cada um de nós. Arrancar isso das entranhas, escondido por baixo de tanta treta esculpida pela sociedade nos últimos séculos, exteriorizá-lo e materializá-lo, é a verdadeira liberdade, a derradeira libertação do espírito.
Parabéns João Salaviza,!
8 Ideia(s):
Pak Karamu reading your blog
Confesso que tropecei naquele "nós escritores" logo na primeira linha, sobretudo porque fiquei meio perdido por não me reconhecer como escritor nesses moldes, por não me limitar à metafora da vida enquanto representação da mesma com holofote virado a si próprio, e porque raramente o que escrevo me deixa sabores amargos, seja nos dedos ou onde for.
Adiante percebi no texto que a ideia de fundo recaia nos exemplos da metáfora. Resta-me ver o filme "Arena" para poder completar o comentario.
Bjs
F
Ao fim
Pakkaramu,
Wellcome.
Oh Piloto,
Que mauzinho estamos hoje, espero que não tenha sido por te teres magoado quando tropeçaste. Mas vamos por partes.
Eu considero-me escritora, simplesmente porque a primeira coisa que quero fazer assim que acordo, e aquilo que mais prazer me dá, é escrever. Escrevo a toda a hora, em qualquer resto de papel, ou superfície que o permita, escrevo sobre tudo e sobre nada, sobre o que sinto, sobre o que vejo, sobre o que imagino. Tenho um romance finalizado, dois a caminho do fim e três iniciados. O facto de nenhum ainda ter sido publicado, é uma mero pormenor, que não faz de mim menos escritora. Já escrevi letras de músicas que estão prestes a ser publicadas num álbum, já escrevi duas peças de teatro, que já foram realizadas e uma que estará em cartaz em Fevereiro, por isso, permite-me a liberdade de me achar escritora, por favor...
Quanto ao resto, sim, "A vida é um palco", é uma metáfora por demais utilizada e sim, muitas coisas que escrevo, deixam um sabor amargo dos dedos, seja porque não explicam totalmente o que pretendo,o que sinto, seja por serem simplesmente lugares comuns, algo que acontece muito nos blogs.
Se me vejo num palco com holofote virado para mim, sem sombra de dúvida e para além de estar no palco, estou também na primeira fila como espectadora e tenho visão global...
Eu acho que o filme tem muito a ver com a metáfora que explico no último parágrafo, mas é uma visão muito própria, muito minha e talvez esteja além daquilo que o João pretendeu mostrar. A metáfora da vida, vem no caso da opção de alguns realizadores, filmarem lugares comuns, o quotidiano e fazerem disso arte, tal qual fotógrafos.
Espero ter-me explicado...
Fico à espera do resto do comentário.
Um beijo,
Realmente de parabéns - quero muito ver o filme! realmente de mau humor - todos nós somos um pouco escritores... pelo menos os que têm prazer na escrita. não quer dizer que todos sejam bons escritores... Mas sempre ouvi dizer que "a vida é uma peça de teatro - por isso canta, dança, ri, chora, diverte-te antes que o pano caia e esta chegue ao fim" beijos
Crissy,
Rir, cantar e chorar. Fazer tudo que nos der na gana, respeitando-nos a nós, que de imediato vem o respeito pelos outros e seremos felizes mesmo nas amarguras, pois estaremos a viver.
Ups, mais um lugar comum... agora vou passar o resto do dia com sabor a limão nos dedos... o que vale é que eu adoro limão! :D
há que dar vivas aos novos talentos, a estes que ainda não têm vicios nem tiques de vedetas... nem recebem subsidios para projectar filmes em "branco"...
haja juventude e sangue novo
beijo
Vulgar,
Plenamente de acordo!
Bom fim de semana!
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